segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

DESAFIOS

Cada vez mais, penso eu, se colocam à educação, e consequentemente à Escola Pública, enormes desafios. Definitivamente, a Escola arrumadinha, com os meninos em fila, livros sobre as mesas, senhores professores no estrado, meninos que querem aprender e que vêem na Escola a garantia do futuro acabou. Está morta, enterrada e já se lhe rezou por alma o que bastasse!
Agora, a Escola, pelo menos a pública, acolhe todos. Todos signifca aqueles que querem aprender, os que têm pais atentos e exigentes, os que vivem sozinhos, os que se drogam, os que têm perturbações mentais, os que já perceberam que a Escola, por si só, para pouco serve, os que gostariam de estar em qualquer lugar do planeta menos na sala de aula, os que têm problemas emocionais, os que têm distúrbios de personalidade, ... E eu acho que é justo, e que faz sentido, que assim seja! 
Sim, eu acredito, e defendo, uma Escola para todos que, por isso mesmo, tem de ser uma Escola para cada um! Por isso, tenho vontade de chorar quando sou confrontada com técnicos que pretendem enviar jovens para fora da Escola, para outra Escola, para outro lugar que não exija, da parte dos educadores um trabalho diferenciado e atento...
Sim, a Escola Pública nem sempre tem recursos suficientes para responder, condignamente, a todas as solicitações. Mas, sim também, nunca é impossível tentar fazer alguma coisa...
Tudo está em mudança no Mundo, em transformação na ciência mas, acho eu, a maior mudança tem de acontecer na cabeça (e no coração) dos profissionais de educação!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

MÚSICA

Tenho muita pena de não saber música mas, paradoxalmente, gosto imenso de ouvir música. Ontem, numa noite gelada, com a minha cidade envolta em nevoeiro denso, fui ouvir o Toy Eustáquio. O Toy foi meu colega no liceu, é hoje meu colega noutra escola, mas é, para mim, um músico de excepção.
Com o guitolão, num ambiente intimista, ontem a música levou-me longe, devolveu-me Marúan, fez-me chorar de emoção.  No silêncio, a música trouxe a moça árabe, os véus azul e rosa tombando no desejo... 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

SUPER NANNY - SUPER ESTUPIDEZ

Tenho acompanhado, com real interesse, o programa da SIC , Super Nanny. 
Vi os dois episódios, do princípio ao fim, assisti ao debate promovido pela mesma SIC e tenho lido o muito (talvez demais) que se tem escrito sobre o programa. Tenho, também, a minha opinão, como mãe, como professora e como cidadã. 
Assisti, nos dois programas, a manifestações claras de falta de educação. Apresentaram-se crianças insuportáveis (porque há crianças tiranas e insuportáveis) mas apresentaram, sobretudo, pais sem força, sem autoridade, sem capacidade de fazerem cumprir regras. No fundo, penso eu, este programa - que claramente condeno - traz à luz do dia o caos em que se tornou grande parte da sociedade: - Os pais temem impor-se, as crianças crescem sem regras, a autoridade parece ser algo errado, dizer NÃO é crime!!
Para além da exposição, que considero absurda e incorrecta, da vida familiar, assistimos ao esboroar-se de uma ordem social. É preciso que surja alguém externo para dizer aos pais que têm de se impôr? É preciso vermos miúdos de cinco anos a puxar os cabelos à mãe para percebermos que há erros graves? 
Fico com medo da Super Nanny. Fico com medo deste mundo que integro...

domingo, 21 de janeiro de 2018

Viajar

Viajar é, sem dúvida, uma das maiores- se não a maior - fonte de aprendizagem. E como eu gosto de viajar. Acabei, há pouco, de chegar da travessia de meio Portugal. 
De Ponte da Barca a Portalegre, ao longo de 400 kms solitários, vim viajando duplamente: - Por fora, a paisagem, por dentro os pensamentos. Por fora, um país pequeno e e diverso. 
Por dentro, a certeza de que o país é lindo, cheio de diversidade. Fugi à auto-estrada, fui espreitar Aveiro, e mais uma vez me espantei com a força do mar da Costa  Nova. Depois, Coimbra e as memórias herdadas do meu Pai a provarem-me que sim, que o Tempo passa...
O IC8 marcado pelo horror, árvores cadáveres orlando a estrada, serras escurecidas, casas isoladas e infelizes. 
Nas áreas de serviço, por fora tão europeias e sugestivas, a tristeza de um Portugal que não há meio de se reinventar: - casas de banho sujas, fechos partidos, paredes escritas com as maiores idiotices que ninguém normal deseja ler. 
Fico a pensar que, apesar de muita modernidade, de muitas parangonas feitas inovação, ainda, emPortugal, há muito - MUITO - por fazer. Pior... O que falta fazer, não leva tijolo, nem carece de cimento. O que falta fazer, chama-se educação, chama-se formação cívica!

sábado, 6 de janeiro de 2018

HUMANIDADE?

Há coincidências incríveis. Hoje, bem cedo, quando caminhava na minha cidade para o meu café de eleição, fui abordada por uma senhora, claramente doente mental, pedindo-me, insistentemente, uma esmola. Atrás de mim, num tom aflitivo, insistia para que lhe desse dinheiro. Não dei. 
Fiquei a pensar que deveria ter dado, mas suspeitei de consumos e não dei. Comprei o jornal, ela sempre insistindo na moeda, e segui. Sentei-me no café, pedi a minha bica e abri o jornal. A mulher não entrou, seguiu outra pessoa, desceu a rua que acabara de subir, numa ausência de rumo estranha.
Fiquei com O EXPRESSO, que faz anos. 
Na revista, que tanto aprecio, a crónica de Clara Alves apresentava o submundo de Nova Iorque. A miséria humana, pessoas que, com temperaturas de vinte e alguns graus negativos, dormem sob cartões, junto de dejectos de animais, de lixo diverso. A cronista parecia ter lido as minhas interrogações. Como se compreeende que numa cidade onde há bilionários, muitos!, continue a haver pessoas que são ignoradas, que são marginalizadas? Imaginei Nova Iorque, a neve, o brilho das montras, o caminhar apressado de muitas pessoas, a maioria envolta em bons casacos e com os estômagos reconfortados. Recuperei memórias, Nova Iorque brilhante, imensa e alegre, cheia de luz e brilho. E os cartões. Os seres humanos como lixo. A tristeza, a desumanidade de uma humanidade que parece não o ser...
Pensei em mim, que não dei a esmola. 
Virei as costas, apertei o casaco quente, calcei as luvas de pele. E julgo-me humana. 
Tento, agora, encontrar desculpa para o meu silêncio. Não há desculpa! São as pessoas como eu, somos nós, que estamos a permitir que a desumanidade se instale...

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

IGUAL

Pronto, já está e só doeu um bocadinho... Estoiraram rolhas de espumante, explodiram milhões de foguetes, houve bebedeiras, festas, promessas, votos, acidentes, mortes e partos. Depois, de manhã, acordou tudo como dantes. 
O Ano Novo chegou estafado, feito igual ao velho, sem ser capaz de mudar de facto a humanidade e a rotina. Agora, depois das passas e da renovação mascarada de esperança, passamos a escrever 2018, em vez de 2017, e vivemos como dantes. Tão bom ser Ano Novo. Ou não...