segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Os Senhores Feios

Gosto desta hora. É noite, há silêncio - a minha vizinha já não arrasta os móveis -, as memórias dão o braço aos fantasmas e a conversa vem calada. 
Trabalho adiantado, entro nesta janela que é minha, neste espaço de onde me espanto com o mundo, e lembro o debate autárquico a que assisti há poucas horas. Seria engraçado, se não fosse trágico! Ouvi absurdos, mentiras descaradas, discursos vazios. O candidato que prefiro, aquele que, para mim, tem as melhores propostas, denunciou nervosismo. Não está habituado aos jogos de palavras, é autêntico e verdadeiro.
Mas ouvi o candidato comunista, ele que há anos é vereador, falar sem memória. Ouvi-o apregoar bandeiras desfeitas: - Portalegre era industrial (e a minha avó estava viva); temos de reivindicar (e que tal fazer?); os comunistas dantes eram acusados de comer criancinhas (e hoje comem caviar, deslocam-se de Mercedes e vivem em condomínios fechados)
O candidato do PS apregoou Cimeiras. Cimeiras quinzenais... Parece-me bem, sempre há-de haver emprego para os que terão de ir fazer número na assistência inexistente.
O candidato do BE queria lembrar que quem inventou os enchidos foram os agricultores. Sorte não se ter lembrado de defender os direitos do porco, ou lá se ia a farinheira e a morcela cozida da nossa terra...
O PSD disse o óbvio. É preciso fazer. Pois...
A senhora presidente falou de um concelho que não é o meu. Falou de um concelho onde tudo está bem, do emprego à recuperação do património. A dada altura, pensei que estaria a falar de Portalegre no Brasil...
Enfim. daqui a pouco, há 50 anos que aconteceu a Revolução e a democracia continua, a meu ver, longe de estar consolidada. 
Olho e oiço tudo com angústia. Porque gostava que fosse diferente! Porque tenho muita pena - mesmo! - de continuar a assistir a jogos de poder/podre e não, como já é tempo, a exercício real de cidadania.
Há uns dias, a minha neta inglesinha, de 4 anos, perguntava ao passar na rotunda do Navio: - Avó, porque é que em Portugal põem os senhores feios nas paredes?É castigo? - Na altura expliquei a razão. Hoje, acho mesmo que merecem um castigo!

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