domingo, 24 de dezembro de 2017

Véspera de Natal

Guarda as armas, enfia no saco do lixo a desconfiança, sacode a negrura do teu coração. Depois, sorri! porque é Natal, porque cada hoje é novo, porque o ontem não existe mais, porque só há impossíveis para os fracos, porque só perdem os que desistem. 
Sim, estou feliz! Feliz porque estou viva, posso sorrir, acreditar, sonhar e chorar as lágrimas que, tantas vezes, me lavam a alma.
Talvez, afinal, o Natal seja também isto - esta capacidade de reinventar a Vida, de recuperar a felicidade. 
É véspera de Natal e estou feliz! Tenho uma montanha de boas memórias, deitei no lixo as desilusões e vou rir-me perante cada novo obstáculo. 
Sim estou feliz! Porque as verdades alheias ficam-me curtas, porque a minha realidade se pinta com as cores que escolho da palete que Deus nos oferece sempre.
Sim, é véspera de Natal e eu estou feliz porque não carrego ácidos, porque me purifiquei da amargura, porque eliminei as nódoas negras da vida!
Obrigada, Jesus por me ensinares o AMOR!

sábado, 23 de dezembro de 2017

FALTA UM BOCADINHO

É quase Natal. Talvez por ser sábado, o movimento acalmou e oiço o silêncio da minha emoção. Tenho netos a chegar, sei que a ternura e o carinho me vão envolver, mas ainda assim sofro. Dói a ausência de quem desejo, fere a constante agressão, comboio de ódio desenfreado. Queria presente a ausência, queria palavras de amor e compreensão. Queria, afinal, ter de volta aquele enorme bocadinho que me falta para um Natal feliz...🤔

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Madrugada

Olá madrugada. A luz amarela, lá fora, denuncia frio. Vejo-a daqui, do quente da minha cama, tentando distrair as lágrimas teimosas. Vou hoje despedir-me de mais um amigo. De um colega rabugento mas fantástico, verdadeiro e enorme professor. 
Estou tão cansada de despedidas! Acredito , tento..., que há sempre uma madrugada grávida de possibilidades, mas temo que os anoiteceres, a escuridão, se imponham à nova luz. 
Tenho em mim toda a tristeza do mundo. 
E tenho de sorrir, porque a tristeza é um luxo que não posso permitir-me. Os outros não a merecem. Daqui a pouco vou levantar-me, vou chorar o adeus. Depois, o meu colo acolherá os netos e a vida continuará a cumprir-se. Assim. Indiferente, vezes demais, aos meus desejos, impondo os seus possíveis. Daqui a pouco será manhã. Daqui a pouco...

domingo, 17 de dezembro de 2017

FIM?

Li, não sei onde, que às vezes é preciso que haja um fim, para que a felicidade aconteça. Frase mais parva! 
Um fim é, habitualmente, um esfrangalhar doloroso de sentires porque, se há fim, é porque houve, um dia, um início. Porque existiu um durante que falhou! O fim não alivia. Mata devagarinho, sinto eu!

CONTO DE NATAL

Era um dia de vidro. O frio, intenso, tornava os movimentos das aves difíceis, o ladrar dos cães rouco e a conversa das gentes murmúreos. Caminhava na cidade, compras obrigatórias, a carteira  a pedir clemência. Tinha de ser. Não ía deixar passar a Noite  apenas com sono. Não! Era a Noite e, mesmo que sozinha, para ela era especial. Por isso, esticou os cêntimos, comprou um pedaço de perú, tomates bem pequeninos e um ramo de coentros. Haveria, ainda,de juntar alecrim, mas esse, sorte!, resistia no quintal. Reparava nos passos apressados, nos narizes e nas bochechas vermelhas, e sorria também. Se lhe perguntassem porque sorria, diria ser a ceifeira, felizmente inconsciente.
Mas ela tinha consciência. Lembrava outros Natais, a casa cheia, o marido presente os filhos pequenos. Tudo tinha sido e, por isso, seria sempre na memória que trancava no coração. Do marido sentia falta do abraço, das pernas que à noite se enroscavam nas suas. Partira, também. Ouro amor, outra mulher, um adeus. Dos filhos lembrava os cheiros - tantos - e agradecia estarem felizes, longe, sem virem no Natal porque, afinal, a vida nem sempre deixa espaço para as datas necessárias. Saudades mesmo tinha dos netos! Ouvia-os lá longe, com a cumplicidade da internet, mas faltava-lhe tocá-los, dar-lhes colo, sentir-lhes a ternura a crescer. Tinha tempo. Entrou no Café e pediu um chá. Ficou a ver subir o fumo quente que a fazia procurar o lenço no bolso. Tão bom, o chá.
Ouviu o sino. Ia começar uma missa. Ou seria um funeral? Pagou e entrou em casa carregada. Com mil cuidados, como se esperasse a família distante, pôs a mesa com a toalha bordada, com o serviço melhor, com as velas acesas. Depois, foi fazer o recheio, ouvindo "All I want for Christma´s is you" e esqueceu o tempo. Estava frio! Acendeu a lareira, quase oito horas, e tomou um banho bem quente. Vestiu o vestido vermelho, calçou saltos altos, trouxe as fotografias para perto de si, serviu um copo de vinho tinto, aquecido e com canela. 
Quando a campainha tocou, nem se surpreendeu. 
Podia ser o Pai Natal, ou até o Menino Jesus porque, afinal, nos Contos de Natal os milagres acontecem!

sábado, 16 de dezembro de 2017

A MORTE

Estava frio na igreja. Aquela igreja é sempre fria, porque a morte é fria. Aproxima-se o Natal e a morte visita-me. 
Saí da casa triste, voltei pior... 
Não gosto do ritual da morte! Sei, claro, que é o fim de todos. Que mais não somos que "cadáver adiado que procria", mas, ainda assim, a morte sempre me surpreende. Porquê tanta exposição? Porque é preciso abrir a dor aos outros, dar beijos a quem mal se conhece, dar pêsames porque é socialmente correcto? A morte não devia precisar de ser pública. De repente, aquele corpo deixa de ser da família, tem de ser exposto a outros, a todos! Não compreendo. A família devia poder despedir-se no silêncio íntimo da casa. A morte devia ser discreta, privada.
Chegada de um velório, penso que está a chegar ao fim uma fase mais. Há uma geração, a que me antecede, que está a partir. Agora, eu avanço para a linha da frente e não quero ser exposta. Quando eu morrer, digam bem de mim. Ou, simplesmente, deixem tocar um tango e fechem a porta aos olhares do mundo!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A CAIXA

Foi um amigo que a trouxe. Tinha ficado para trás, esquecida, talvez deliberadamente abandonada pelo desejo de iludir um passado perdido, de ignorar muitas memórias irrecuperáveis. Mas encontraram-na e, com carinho, devolveram-na. Ela aceitou-a - tão cheia! - atada com uma corda para que a tampa não saltasse. Deixou-a ali, no hall, a um canto, tentando ignorar a presença incómoda. Mas a caixa gritava presente, provocante e abusadora. Finalmente, ela cedeu. Arrastou a caixa enorme até à sala e sentou-se no chão. Tantos momentos que surgiram, brutal e violentamente. Ali estava o casamento, as filhas pequenas, os passeios pelo mundo, o Pai sorrindo. Aqui estava ela, tão jovem, sorrindo, feliz, a assinar os seus livros. O primo já morto a olhá-la com ternura, os amigos presentes a abraçá-la. Depois, as cartas. Tantas promessas traídas, tanto amor dito e não concretizado, tantos sonhos feitos espuma de coisa nenhuma. Não sentia a dor dos joelhos dobrados, mas ardiam as lágrimas que faziam tremer a leitura. Porque vinha agora, tardiamente, o passado bater-lhe à porta? Porque não a deixava a vida cumprir o luto definitivo de tantas perdas? Talvez devesse queimar tudo, rasgar em mil pedaços as letras ocas, deitar a caixa enorme no lixo. Mas não tinha coragem. Sentia, apenas, uma dor imensa, funda, dilacerante. Uma dor tão forte que não permitia que as lágrimas secassem...
Porque é que aquele amigo tinha devolvido a caixa? Seria o presente a querer transformar o futuro?? Fosse como fosse, aproximava-se uma noite de insónia... Podia ter sido tudo tão diferente!!

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Presente de Natal

Sssschiuuu… não faças barulho. Vem devagarinho e senta-te aqui comigo. Sim, desliguei a televisão, e sim, as velas continuam a arder. É noite, está frio lá fora, há chuva e este momento é só nosso. Os netos não chegaram ainda, os teus filhos também não, os meus tampouco. Temos estes momentos só para nós! 
Sssssschiuuu… não vamos falar de passado, esquece lá o amanhã. Este AGORA é nosso,  vamos gozá-lo a dois. Senta aqui, deixa-me aninhar no teu colo e sentir o teu abraço. Somos só os dois!  Agora, podemos fingir que não há problemas, vamos só sentir. Sentir-nos. É bom estar no teu colo, abraçar-te e sentir na pele a tua barba por fazer. Vamos esticar um pouco mais este Tempo nosso… Afinal, é quase Natal! Vamos oferecer-nos um ao outro. Alinhas?

A ESCOLA

Mais uma vez os noticiários da manhã trazem a Escola portuguesa a palco. Os nossos alunos são os que mais reprovam, os que mais cedo abandonam a Escola...
Vão chover críticas aos professores, os mesmos vão alegar a extensão dos programas, o elevado número de alunos por turma, os horários pesados dos jovens. E é tudo verdade!
É verdade que os programas são imensos, que as turmas são grandes, que há professores que recusam perceber que, num mundo tão diferente do que era há dez anos, é impossível continuar a fazer a mesma coisa...
Os críticos vão dizer que as aulas são pouco práticas, muito expositivas, o que também é verdade.
Mas eu, que sou professora, gostava que também se dissessem outras verdades. Que há muito bons professores a tentar fazer diferente e melhor. Que há professores a adoptar dinâmicas educativas assentes em metodologias activas, que há escolas a ousar introduzir a melhoria, a lutar por cada aluno e a tentar criar verdadeiros climas de aprendizagem. Quando se fala de educação, acho eu, fica sempre o mais importante por dizer. Fala-se do que não é bom, mas ignora-se o que o é! Se os professores, aos olhos de alguns iluminados são uns bandidos incompetentes, é bom lembrar que esses mesmos que os condenam foram por eles ensinados...
Eu acredito na Escola Pública, embora não a ache perfeita. Defendo que é precisamente na Escola que se desenvolve e cria uma sociedade mais equitativa, mais humana e mais sábia (no verdadeiro sentido da palavra). Tenho muita pena, mesmo!, que haja ainda alguns professores que continuam obcecados com as médias dos testes, com os exames e os rankings, pensando que o papel primeiro da Escola é preparar alunos para as Universidades. Não é !
À Escola de hoje exige-se muito mais, e muito diferente. A Escola tem de existir em plena harmonia com o meio, olhando a pessoa que mora em cada aluno e tudo tentando para que o sucesso pessoal e social possa acontecer. Tenho pena, também, que alguns professores insistam em colocar os meninos em filas, como nos autocarros, despejando matéria, sem criarem dinâmicas que, de facto, promovam a aprendizagem.
Sei que a Escola portuguesa está muito longe de ser perfeita, mas não posso ficar indiferente à injustiça de algumas (muitas) críticas injustas. A Escola portuguesa também está em mudança e eu, sinceramente, acredito que essa mudança vai acontecer exactamente por causa dos muitos professores muito bons que existem em Portugal!

domingo, 10 de dezembro de 2017

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,
Espero que tenhas computador, instagram e facebook, conhecimentos que te permitam ler um blog porque, sinceramente, ir aos correios meter a carta é tarefa exagerada para mim. Ando com preguiça. Preguiça de fazer esforços inglórios, inúteis também. Tenho preguiça, por exemplo, de defender a tua não-existência quando, contrariamente à minha Fé, te encontro em todos os lugares. Imagina que, hoje, estavas quase mergulhado nos congelados do supermercado... Também ontem me cruzei contigo, deste por mim?, à porta de uma loja triste, um bocado de lado e com as barbas por pentear. Há uns dias comprei-te em chocolate e, desculpa, os meus netos devoraram-te num instante. Enfim, espero mesmo que tenhas computador.
Resolvi aderir à época natalícia e escrever-te. Não vou pedir-te uma casa, um carro novo, alguém que me ame assim como sou. Não. Venho mesmo pedir-te algo que, acreditando que tens alguma confiança com o Menino Jesus me podes dar. 
Alías, eu não quero pedir-te que tragas nada, quero só pedir-te que leves!
Na noite de 24, ou na madrugada de 25 se estiveres já muito cansado, leva para longe a minha solidão, leva no teu saco os destroços da minha existência, leva a maldade para o Polo Norte e deita-a ao mar feroz.
Pai Natal, este ano passa aqui com o saco vazio e enche-o das minhas mágoas. Por favor!

sábado, 9 de dezembro de 2017

LER

Ler é sempre, diria que  cada vez mais, a minha melhor opção . Hoje, numa tarde das que eu gosto, depois de um bom almoço com a amizade à mesa, voltei a Aquilino Ribeiro. Era o escritor preferido do meu Pai... É um escritor difícil, intenso e agreste como a terra pedregosa onde viveu, mas traz-me a inquietude de um Portugal, ou de um ser português, que, apesar da inegável globalização, me toca profundamente. 
Acredito que somos da terra, bicho pequeno...,e sinto que o lugar onde nos fazemos pessoas, gente, nos marca de forma acentuada. Ler Aquilino é andar nas serras de imensos calhaus, sentir a força agreste do frio que ajuda a esculpir falares estranhos, cerrados e cheios de significado. Hoje, o Malhadinhas fez-me boa companhia!

Quando eu Morrer

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer,
Não chorem,
Não lamentem,
Não comprem flores!
Quando eu morrer
Enxuguem as lágrimas
Quando eu morrer,
fiquem felizes 
Porque
Quando eu morrer
Eu vou ter paz.
A Paz do esquecimento!
A Paz da ausência de culpa!
A Paz da saudade inexistente!
Quando eu morrer

Façam festa!
Lancem foguetes
E dancem!!
Quando eu morrer,
Não falem mais de mim...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

CONSTRUÇÕES

É cedo, hoje. É noite já, mas é bem mais cedo do que a hora a que, habitualmente, chego a casa. É cedo... E, no entanto, é tarde para muitas coisas. Para quase tudo!
Vim para casa com o trabalho em dia, dei banho ao Zorba, pus a música a tocar, passeei no Facebook, e vim conversar. Conversar com o silêncio da minha solidão, um silêncio que, sei lá porquê, se torna ruidoso em excesso. 
Aproxima-se mais um  Natal. Vão chegar os netos, vão instalar-se as memórias e as saudades. Tenho saudades cortantes de tempos que nunca foram reais! Estranho, admito. 
Tenho saudades das minhas filhas pequeninas, da ternura presente do meu homem, do abraço inteiro, dos cheiros a doces e a perú assado. Tenho saudades da neve a encher o quintal, dos narizes vermelhos colados aos vidros embaciados, das manhãs a quatro na cama, brincando e enchendo de migalhas e papel de embrulho a cama grande. Tenho, fisicamente, dores intensas por falta destas memórias construídas no meu desejo de ser!

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A ASPIRINA

Compro aspirina, tomo aspirina, há muito tempo.
Aliás, seguindo as práticas da minha avó, até tomo uma aspirina quando a irritação é demais. De facto, quando a minha tristeza é muita também tomo uma aspirina e, curiosamente, às vezes funciona.

Mas ontem, em Portalegre (claro!) aconteceu-me comprar aspirinas para sair do parque de estacionamento! Supreendidos? Só quem não conheça Portalegre!

Foi assim: fui a um Seminário ao Salão da CMP. Parei o meu carrinho no parque de estacionamento da Corredoura. A meio da sessão, precisei sair num instante e corri a buscar o carro. Estava um funcionário na entrada que me disse que teria de pagar na caixa do piso zero. Corri à caixa. Dois euros e quarenta. Tentei pagar. Não tinha moedas, não tinha senão uma nota de dez euros e outra de vinte. A máquina não aceitou. Voltei a subir. O funcionário, firme no seu posto, sugeriu-me que fosse à Tasquinha. Fui. Não havia troco, tomei um café (fiquei a dever dois cêntimos, gastei as moedinhas todas que tinha). Corri à Farmácia Romba e... comprei uma caixa de aspirinas! Voltei ao Parque . Vinte cêntimos mais caro, lá consegui pagar e sair.
Alguém poderá explicar-me por que razão estas idiotices só acontecem na minha cidade?! Alguém me explica porque razão em Portalegre as aberrações insistem em nunca mais terem fim??

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

SENSIBILIDADES

Recordo Sophia. As Pessoas Sensíveis não matam galinhas (as pessoas sensíveis comem galinhas... Sorrio na minha mágoa. 

Há tantas sensibilidades estranhas. E eu gostava de compreender, mas compreender mesmo, para depois poder aceitar (ou não), a razão das hiper-sensibilidades!
É-se sensível, manifesta-se melindre, porque nos achamos muito importantes?

É-se sensível, manifesta-se melindre, porque nos achamos perfeitos?
É-se sensível, manifesta-se melindre, porque pensamos que, para os outros, somos o centro das prioridades?
É-se sensível, manifesta-se melindre, porque somos tão pouco inteligentes que não percebemos que há vida para além do nosso umbigo?
Queria perceber. 
Mas, enquanto não percebo, vou criando carapaça. Resistência feita indiferença. Cada vez mais me preocupam menos as opiniões alheias (Hélas, antítese eficaz!). Cada vez mais me dá vontade de rir a proliferação do melindre...
Retomo Sophia. As Pessoas Sensíveis. 
Pois...

sábado, 18 de novembro de 2017

IMPOSSÍVEL

Quem nunca viveu um amor impossível, não sabe o que dói amar na clandestinidade. Porque tudo é do avesso, quando isso acontece! Um amor impossível só o é - impossível - aos olhos dos outros. Dos que opinam, julgam e condenam. Para quem ama, o Amor é sempre possível, porque real. E dói para cima de imenso, quando visto de fora se veste de impossibilidade! 
A gente distrai-se e, pimba! o Amor instala-se, ignorando as regras sociais, as línguas venenosas, e as dificuldades do quotidiano. Instala-se, acomoda-se dentro de nós e toma conta da cabeça, do coração, e até das pernas e dos braços. Sim, porque temos vontade de correr para quem amamos e de estreitar num abraço quente esse outro parte de nós.
Não devia haver amores impossíveis! 
A vida devia ser boazinha, escancarar as portas da aceitação, e deixar que os amores impossíveis acontecessem sem impossibilidades. O Amor impossível, além de nos rasgar por dentro, humilha-nos para lá do razoável. Não é justo, mesmo! Quando eu mandar, vou legitimar todo o Amor verdadeiro e, então, não haverá mais impossíveis entre duas pessoas que se querem por dentro e por fora!

domingo, 12 de novembro de 2017

PAIXÃO

Embora eu seja uma má católica, e apesar de ter com excessiva frequência crises de Fé, sempre que vou à missa, o que acontece todos os domingos, venho com algo novo que ora me apazigua, ora me incomoda, ora me faz pensar. Hoje, não fugi à regra... O senhor cónego falava da necessidade de nos apaixonarmos, garantindo que a paixão nos faz agir melhor, com mais entrega e mais vontade. Achei bonito, como princípio. 
Dei comigo a pensar nas imagens dos apaixonados felizes, com cócegas na barriga, com a convicção de que o mundo tem ritmo certo e que há possíveis a cada esquina. Depois, vim para casa lembrando as minhas paixões. 
Sou uma mulher de paixões! Apaixonei-me com a força da juventude, tinha os meus 14 anos. Era um amor para sempre. O meu primeiro namorado, aquele que me fazia tremer só por me  dar a mão na fila J do velho Crisfal, era a razão do meu existir. Achava eu, então, que íamos casar e ser muito felizes. Gostava tanto, tanto dele!
Depois, mais velha, casei, de novo apaixonada. Agora, então, era mesmo de vez. O meu vestido de noiva espelhava a minha ingenuidade... Mais uma desilusão.
O tempo passou e, hoje, quando olho à minha volta penso que a paixão só me fez (e faz) sofrer! Trabalho apaixonadamente na Educação, sou agredida e magoada; amo loucamente, sou ofendida e ignorada; luto apaixonadamente por Valores como a amizade e o respeito, sou gozada e humilhada; apaixono-me pela minha Serra, venho viver na cidade; quero apaixonadamente às minhas filhas e netos, e estão longe-longíssimo!
Se eu conhecesse o senhor cónego, assim um conhecimento de conversar das coisas, havia de lhe dizer para rever a sua confiança na paixão...

sábado, 11 de novembro de 2017

ARQUITECTA

Se eu fosse arquitecta, havia de fazer uma casa para o meu eu. 
Não para mim, para a pessoa exterior, mas sim uma casa onde pudesse viver o meu eu interior. Havia de fazer um quarto grande, cama king size de edredão branco, para deixar descansar no conforto as minhas ilusões, as mágoas e as tristezas. Seria um quarto amarelo, amarelo suave, com uma larga janela para a Serra. A minha sala teria uma lareira sem fazer fumo. Aí, eu ia deixar que os meus poetas se  instalassem para falarem de outros sentidos, bebendo comigo um tinto com canela. Havia de gostar de os ouvir discutir a força da ironia, a alegria das onomatopeias, as brincadeiras das hipálages. Na cozinha, que seria enorme e cheia de cores e cheiros, eu havia de misturar canela e alecrim, hortelã e gengibre, caril e açúcar. Seria um laboratório para criação de verdadeiros sabores de vida. 
A casa de banho, essa,  seria luminosa e o autoclismo muito eficaz. Muitíssimo eficaz! Porque eu havia de enfiar lá todas as traições que sofri, todas as mentiras que me feriram e ferem, todas as pessoas más (muito más) com que me cruzei!
Às vezes, tenho mesmo pena de não ter sido arquitecta...

domingo, 5 de novembro de 2017

PROFESSORES E MOTORISTAS

Vi, nas notícias, que um motorista de um membro do governo ganha o dobro do que ganha um professor. A primeira reacção foi de indignação. Não de surpresa, porque, sendo professora há 34 anos, sei bem como, em Portugal, se ganha escandalosamente pouco... depois da indignação, fiquei a pensar nos porquês. Encontrei muitos... 
Em primeiro lugar, creio que o desrespeito pela profissão de professor decorre da ignorância da maioria da sociedade. Entende-se que ser professor é uma coisa simples, sem responsabilidade nem consequências, que qualquer idiota pode fazer. E é um pouco verdade. 
Ensinar, não é muito complicado, ser professor é que é complicadíssimo. Aprendi a conduzir, tinha 18 anos, em Lisboa, com um instrutor que não devia ter mais do que a 4ª classe e me ensinou muito bem! Não era professor, mas ensinava... 
Para além da ignorância no que à educação (e a muitas outras áreas) diz respeito, a sociedade ainda não compreendeu como a Escola e o Mundo mudaram, e como a função do professor se tornou crucial. Hoje, é na Escola que tudo se define... Os professores podem, simplesmente, formar uma geração de vigaristas ou uma geração de gente Boa. Fazem-no diariamente. Fazem-no, uns com consciência, outros de ânimo leve, mas fazem-no. Sem dúvida,  se um médico se enganar só antecipa uma inevitabilidade, mas se um professor se enganar pode tramar uma geração inteira.
Outra razão para o desrespeito pela docência tem a ver, na minha opinião, com a atitude de alguns professores. Sim, se a maioria dos professores é excepcional, há uma minoria que o não é. Os professores que não cumprem, que apresentam atestados médicos falsos, que demoram semanas a corrigir um trabalho, que reclamam constantemente dos alunos, que não têm disponibilidade para mudar, para fazer formação, para olhar cada aluno como pessoa que é, que sempre falam mal do sistema e dos colegas, que sempre fazem greve nas sextas-feiras, que nunca olham a profissão como um privilégio, contribuem, sem dúvida, para que a classe seja olhada como menor.
Não me incomoda nada que um motorista do governo ganhe bem. Nem sequer acho que se devam comparar vencimentos. Mas chateia-me imenso, mesmo MUITO, que os professores ganhem tão pouco. 
Acho revoltante que uma pessoa, com uma licenciatura, fique colocada a centenas de quilómetros de casa, que tenha de manter duas habitações, e receba pouco mais de mil euros. É humilhante!
Creio que era Gandhi que dizia que "o desenvolvimento de um povo vê-se na forma como trata os seus animais". Eu acho que o nível cultural de uma sociedade se vê na forma como trata os seus professores!

terça-feira, 24 de outubro de 2017

DESESPERO

Às vezes, desespero! 
Desespero porque, para além da voracidade do Tempo, para lá das mudanças vertiginosas de cada dia desta modernidade que integro, esbarro com quem parece querer insistir no que já foi. 
Não gosto de gente acomodada, não gosto de preguiça, não gosto dos profetas da desgraça! 
Às vezes, desespero! 
Porque esbarro com a incapacidade de mudança, porque encontro gente - profissionais - que recusam aprender a fazer diferente, a fazer melhor... Eu tenho grande admiração pela classe docente mas, infelizmente, ainda há quem se diga professor e não seja mais do  que um vendedor de informação sob a forma de aulas.
Que desespero!

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

ACONTECE COM OS BONS ALUNOS

Tenho a convicção, talvez errada, de que os alunos, todos, respondem colaborativa e assertivamente ao desempenho dos professores. 
Ou seja, eu acredito que se um professor investe no que faz, se se envolve com os alunos, se cria com eles uma relação assente na empatia e no respeito, a aula resulta, a indisciplina torna-se residual e as aprendizagens acontecem. Mas, só para eu me lembrar de que as minhas certezas estão frequentemente erradas, às vezes vivo experiências dolorosas e para as quais nem  os manuais de pedagogia, nem as muitas horas de formação, têm resposta. 
Como reagir quando, a meio de uma abordagem da poesia de Fernando Pessoa, quando tento, com a turma, desmontar eixos de pensamento, dois bons alunos brincam, jogam, com papelinhos onde registam palavras idiotas, rindo divertidos e incomodando todos?! Ralhar? A jovens de 17 anos?? Explicar? Como explicar a quem já entendeu?? A quem, deliberada e conscientemente opta pela transgressão?
Hoje, tenho trabalho para o serão: - Tentar descobrir como lidar com este comportamento que me chateia, me ofende e me entristece...Se calhar, eu estava a ser mesmo desinteressante!

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ELEIÇÕES NA ESCOLA

Nos últimos dias, talvez nas duas últimas semanas, têm decorrido em muitas escolas e agrupamentos de escolas as eleições para as respectivas Associações de Estudantes. Todos os anos, com maior ou menor agitação, o processo ocorre e eu, sempre, acompanho tudo com interesse real. 
Gosto de ver a dinâmica, o interesse, a entrega que os alunos colocam neste processo e penso, todos os anos, que os jovens são fantásticos quando querem. Chego a pensar, só para mim, que se a sala de aula conseguisse ser, para eles, tão interessante e significativa como a Associação de Estudantes, Portugal ficaria nos primeiros lugares de todos os rankings medidores de sucesso educativo... Mas não é, hoje, da necessidade de mudar a prática lectiva, da urgência de desenvolver estratégias mais envolventes, que eu quero falar. 
O que me levou a sair do sofá, a interromper o enroscanço na minha solidão, foi mesmo não conseguir deixar de pensar no processo eleitoral para a  Associação de Estudantes... 
Toda a campanha, na Escola e no Agrupamento que pude observar mais de perto, foi feita com muitos materiais de qualidade e elevado custo: - Flyers coloridos, balões, T-shirts impressas, brindes (canetas, etc), DJ´s convidados, largas faixas em tecido, autocolantes, cartazes, para além, claro, das muitas redes sociais . Espanta-me a quantidade de dinheiro, o enorme investimento, que as famílias fazem neste processo. Espanta-me porque, frequentemente, oiço os alunos dizerem que não podem adquirir este ou aquele livro, participar nesta ou naquela actividade, exactamente porque as famílias não podem pagar. Penso, talvez erradamente, que as prioridades estão um pouco invertidas...
Mas, ao mesmo tempo, eu confesso que aprecio muitíssimo este tempo de campanha eleitoral nas escolas. Gosto do colorido, da actividade constante, da música, dos miúdos que ficam na escola muito para lá da conclusão das aulas! Só não gosto, mas nem um bocadinho, é de algumas imitações do que de pior têm as campanhas eleitorais dos "adultos". Não gosto de os ver desrespeitarem as listas adversárias, não gosto de os ver ignorar as mais elementares regras da democracia. 
Por tudo isto, eu acho que as campanhas eleitorais para as Associações de Estudantes, tal como a organização das terríveis (algumas)  viagens de finalistas, deviam implicar, de uma forma mais continuada e activa, os professores e as Associações de Pais. Mas, já sei, eu tenho a mania de achar coisas esquisitas...

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

FARTAÇÃO DESILUDIDA

O tempo quente, seco, incómodo, acerta nos meus sentires. Trago em mim um desejo intenso, absurdo?, de partir, de dizer chega. Olho o hoje, esqueço o ontem, e mergulho no vazio do amanhã. Conheço a ausência de resposta, por isso não formulo porquês. Agora, quero a paz do esquecimento. Sim. Que o Tempo se esqueça de mim, que a vida me deixe sair de cena de mansinho, sem despedidas nem epitáfios. 
O cansaço, a mágoa, a desilusão, a desesperança, embrulham a insónia anunciada. 
Não quero nada. E esse nada está a abarrotar de quereres pensados e ainda sentidos. Nada por nada e, ainda assim, uma imensidão de tudos que cada acordar me impõe.
Quando eu não acordar, as páginas que não escrevi ganharão sentido. Talvez.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

DEMOCRACIA

Garantem que é assim, que o povo - uma entidade que não sei exactamente o que é -, é soberano nas suas decisões. Dizem que o tal povo, nós?, sabe o que é melhor. Mas eu não acredito. Não acredito num povo inculto, que em Angola elege a continuação da ditadura, em Portalegre a continuação de nada, em Oeiras a maioria absoluta de quem comprovadamente roubou. Não acredito que seja solução permitir que um eleito com pouquíssimos votos, de uma força partidária que a maioria não quis (por isso só um elemento foi eleito) vá ter poder para decidir, porque vai, com certeza, como sempre fez seja qual for a força que governe, fazer acordos para ter poder. Tenho muita pena que os portalegrenses tenham colocado, na liderança da Assembleia Municipal, alguém que nunca fez mais nada na vida para além de politiquices. 
A democracia tem de ser qualidade. A democracia não pode ser uma sequência de jogadas sujas!
Não gosto deste Tempo de sem vergonhice e tenho muita pena de olhar a democracia como uma Casa muito mal frequentada.

sábado, 30 de setembro de 2017

REFLEXÃO

Hoje, é dia de reflexão. Para mim, é mais uma idiotice imposta por gente que não costuma reflectir. Porque pensar, tomar consciência das muitas oportunidade, escolher, dizer sim, dizer não, é, ou deve ser, uma tarefa de todos os dias. Mais, de muitas vezes aos dias. Faz-me alguma confusão esta ideia de que, depois de uma campanha eleitoral, as pessoas precisam de um dia para reflectir. Porquê? Não houve tempo, mais do que tempo!, para se ouvir, ler, ver, escolher? Haverá alguém que , de verdade, aproveite o dia de hoje para reflectir?

Claro que um dia de reflexão, em si mesmo, não tem importância nenhuma. Aliás é até bom para descansar de barulho, de arruadas, de carros roufenhos a encherem-nos os ouvidos de ruído. O que me irrita é a hipocrisia que está por detrás desta ideia de reflexão! Irrita-me que nos tomem por parvos, e que sejamos parvos o suficiente para aceitarmos todas as barbaridades que nos impingem. eu defendo, desde que me lembro de ter preocupações cívicas, que a Liberdade deve ser o Valor Primeiro de uma sociedade e, por isso, penso que devíamos ser suficientemente livres reflectir quando quiséssemos!
Detesto que me mandem fazer seja o que for, mas que me digam que há um dia para reflectir, ofende-me!

domingo, 24 de setembro de 2017

ELEIÇÕES

Embora apenas há menos de oito dias tenha, oficialmente, tido início a Campanha Eleitoral, há muito que ela está na rua. Foi, é sempre, assim como a abertura da caça: - Mal o dia se adivinha, começam a preparar-se as armas, a escolher as reservas e o terreno livre, a preparar o tiro. Com as campanhas é a mesma coisa. 
Cada candidato, com o seu séquito de batedores, estabelece o plano de acção: - Identificar o que está mal, propor melhorias, esmiuçar os defeitos dos adversários e partir à caça de votos. Cumprimenta-se toda a gente, oferecem-se brindes com sorrisos, dão-se beijinhos mais ou menos a contra-gosto e garante-se mudança. Todos, sem excepção, apresentam a garantia de diferença e de melhoria. Todos colocam o seu Concelho em primeiro lugar (pelo menos até ao dia 1 de Outubro).
Nos primeiros anos após o 25 de Abril, este tipo de campanha podia fazer sentido. Hoje, para mim que voto, participo, integro listas, fiz escolhas e quero mudança, não faz sentido nenhum. Aliás, ouso pensar que para os candidatos também faz pouco sentido, porque os tenho encontrado, a todos, um pouco embaraçados no seu papel de salvadores do Concelho. 
Com tantos órgãos de comunicação, creio que este exercício de democracia porta a porta só chateia. A mim, sinceramente, chateiam-me os carros roufenhos que gritam músicas gastas e frases inacabadas, entre outros ruídos violentos. 
É preciso, claro, fazer campanha, mostrar aos eleitores o que se oferece e o que, de alguma forma, poderá ser mesmo diferente. Mas, para mim, em pleno século XXI, quando criancinhas de seis e sete anos vão de I-phone para a escola, creio que tudo poderia ser feito com mais dignidade e menos incómodo para todos...

domingo, 17 de setembro de 2017

Bons Conselhos com Castanhas

Sabe para que quero estas castanhas, são as da Índia... Eu não sabia. Mas a senhora era simpática, eu estava só a ler, deixei a conversa correr. Será para combater as traças? A minha mãe usava-as para isso. A senhora sorriu, misteriosa. Não... servem para limpar as pessoas dos males que os outros lhes querem. Metem-se num frasco, só uma para cada pessoa, e espera-se. Se houver males, mau-olhado está a perceber, elas incham, rasgam-se e deitam fora. Fica uma água castanha, suja, que não se pode deitar fora... Bebe-se? A senhora sorriu. Não, que ideia! (Acho que ela pensou que estupidez...) Enterra-se a água e a castanha. Não quer levar?
Eu quis. Trouxe para mim, para as minhas filhas e para os meus netos. Não é que eu seja supersticiosa, mas prevenir nunca fez mal a ninguém!

OS GIRASSÓIS

Nos meus mais de 30 anos de ser professora - porque é uma profissão de SER - enfrentei muitos desafios, atravessei muitas mudanças. Muitas vezes, bastava que mudasse o governo para que se quisesse mudar a Escola. Compreensível, se pensarmos que é na Escola que se ajudam a formar cidadãos capazes de agir, de pensar, de contribuir no sentido daquilo que quem dirige pretende...
A par com as mudanças de políticas, sem dúvida a Escola vive as mudanças sociais. E nunca, como hoje, o mundo mudou tanto e tão rapidamente! parece-me evidente, necessário e imprescindível, que a Escola mude. Não vejo sentido em aprendizagens centradas em conteúdos, num mundo com a informação à distância de um clic. defendo, cada vez mais, uma Escola organizada em torno de cada turma, com um olhar particular a cada um dos alunos. A Escola que eu sonho é a que abre as portas às Fadas, a que escancara as janelas aos ventos de mudança e a que se alicerça em afectos. É, também, a Escola onde avaliar não é punir, excluir ou seriar. Na minha Escola, avaliar é permitir sucesso, é dar resposta, é identificar as dificuldades de cada um e apontar formas de as ultrapassar.
Para a minha Escola, quero uma avaliação rigorosa, exigente e fazedora de percursos de ser e saber. É por isso que, como muitos cientistas da avaliação, defendo que cada aluno deve saber, exactamente, o que se espera dele, num enunciado sob a forma de perfis de aprendizagens, para ser capaz de se situar em diferentes momentos. Avaliação contínua não pode, nunca, significar carregar erros mesmo que superados! Avaliar atitudes e valores não pode, na Escola de hoje, ter "pesos" como 10 ou 15%...Afinal, a primeira função da Escola é mesmo contribuir para uma sociedade mais humana, mais justa, mais equitativa e mais livre!
Sophia dizia, num dos muitos poemas fantásticos, "este é o Tempo dos chacais!". Eu, consciente da minha insignificância, afirmo que "este é o Tempo dos girassóis"

sábado, 16 de setembro de 2017

CORAÇÃO??

Não lhe viessem com romantismos anquilosados. O seu coração batia sim, bombeando sangue. Nada mais. O problema não era, pelo menos por enquanto, o funcionamento da bomba. Era, sim, a disputa entre os dois hemisférios do seu cérebro. Do lado da razão, a exigência do pragmatismo, a informação, clara, de que a traição acontecia, de que só ela mesma sobrava. Do hemisfério direito, o da emoção, a ilusão de um amor impossível, proibido pelas exigências de uma sociedade em si mesma oca... 
Ela ficava assim, de olhar húmido, encarando cada amanhecer com a esperança perdida da mudança eternamente adiada. Coisas de coração, diziam-lhe. E ela sorria cansada, descrente. Porque o coração, o dela, indiferente às discussões do cérebro, continuava a bombear, certinho, o sangue para todo o lado.

domingo, 10 de setembro de 2017

Toda a Carta tem Resposta?

Conto ou não conto? Digo ou não digo? Racionalmente, devia calar-me. Emocional e socialmente apetece-me contar. E o que interessa a partilha, de que serve que os outros, muitos desconhecidos até, saibam o que vivi? Normalmente, não serve de nada. Mas, desta vez, pode servir de exemplo a algumas pessoas.
E pronto, agora acho que já criei apetite para a leitura do que vou contar...
Pois eu, que já fiz mais de meio século nesta coisa redonda e amolgada a que chamam mundo, tenho vivido algumas experiências insólitas. Algumas, de carácter mais íntimas, guardo para mim. Mas, no ano passado, vivi cerca de oito meses de um processo deveras curioso. Como detesto que me digam "não podes!, e foi o que ouvi quando coloquei a hipótese de me candidatar à direcção de uma Escola, resolvi ir fazer a pós-graduação necessária para a coisa, em administração e gestão escolar. 
Não existindo a mesma em Portalegre, poderia ter ido para Castelo Branco. Mas não. Sou mulher de mar e, por isso resolvi escolher Setúbal. Ainda por cima, estava (e está) lá um Professor que eu muito prezo, o Prof. Jorge Pinto. Contra tudo o que seria razoável, esqueci Castelo Branco e lá fui dar dinheiro (muito) a ganhar ao IP de Setúbal.
Depressa percebi o logro... De repente, euzinha, no meu mais de meio século de angústias, era tratada como adolescente ... Tive vontade de desistir mas, entretanto, já tinha criado laços com o grupo de colegas e, por isso, aguentei-me. 
Durante um ano, nos fins de semana, lá acelerava eu para Setúbal para, muitas vezes, oito horas de vazio. Enfim... entre uma brincadeira, uma ou outra leitura, a coisa foi-se fazendo. Só que, num desses fins-de-semana esbarrei com a disciplina, pomposamente designada Unidade Curricular, de Contabilidade. Bem... depois de quatro horas a ser baralhada sobre o que é o débito e o crédito (juro que é verdade), veio a avaliação. A contabilista de serviço, orgulhosamente anunciando nunca ter aprendido a dar aulas (informação desnecessária porque óbvia), mandou-nos fazer um trabalho. O grupo juntou-se e os trabalhos, feitos com a ajuda de especialista externo, foram entregues. Todos tiveram notas razoáveis menos eu... Porquê? Porque refilei, porque disse o que pensava (e penso). Conhecem a máxima dos velhos professores "no fim vais ver, eu lixo-te!"? Pois foi o que me aconteceu...
Revoltada, pedi para falar com os coordenadores do curso, com o Presidente do IP de Setúbal. Por resposta, só o silêncio.
Agora, quando vejo os meus alunos a serem colocados no Ensino Superior, é com grande alegria e alívio que verifico que nenhum escolheu o Instituto Politécnico de Setúbal!!
Para além de tudo, toda a carta tem resposta, ou não? No IP de Setúbal, não...

sábado, 9 de setembro de 2017

VENTO

O vento agita as árvores, as folhas bailam no quintal e a  ansiedade acompanha o ritmo. Ela olha o quintal e pensa na vida. Também o quotidiano se agita, também os sentires se embrulham em desilusões e desejos. 
Afinal, quando começara o vendaval da vida? Da sua? 
Bem diferente dos furacões que destroem a América, não chegou com aviso, não foi baptizado e não permitiu evacuação da emoção. Chegou de rompante, intenso, e varreu a tranquilidade, inverteu as verdades seguras, deixou no canto as certezas e espalhou ansiedades. 
Mulher. Mulher de sentires, de desejos e necessidades.
Deixou o vidro da janela, já baço, e olhou o vestido sobre a cama. Tinha de se despachar. Aguardava-o o olhar alheio, a audiência que esperava dela certezas, orientações e firmeza. Se soubessem como tremia, como chorava quando ria garantindo felicidade...

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Conversas de mim comigo

Tens tudo pronto? Vá lá, calma, é só um novo ano... 
SÓ? Mas esse só é tanto! É um ano que se faz de tempos irrepetíveis, de vontade de fazer diferente, de desejo de construir algo no presente. Sim, eu sei, sou uma apressada, quero sempre tudo agora. Mas, sabes, é que o um dia, o amanhã, o futuro, raramente se faz de concretizações.
O que quero afinal? Dar sentido à Escola, às aprendizagens. Deixar os alunos agirem, construírem, perguntarem e crescerem. 
Esquecer as médias dos testes sumativos e olhar os processos. Pois... Também queria que as fadas voltassem à Escola e as salas de aula fossem espaços de ser feliz.
Sim, eu quero tudo, já! Quero a varinha de condão que transforma comodismo em desejo de mudança. Quero corredores de gargalhadas, professores que brincam e conversam.
Pois é, tenho de ter paciência. Mas tu sabes que paciência nunca foi o meu forte. Porque sei como o tempo corre atrás de mim, ultrapassando-me a cada esquina! E eu estou tão cansada de trabalhar para o passado!

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Os Senhores Feios

Gosto desta hora. É noite, há silêncio - a minha vizinha já não arrasta os móveis -, as memórias dão o braço aos fantasmas e a conversa vem calada. 
Trabalho adiantado, entro nesta janela que é minha, neste espaço de onde me espanto com o mundo, e lembro o debate autárquico a que assisti há poucas horas. Seria engraçado, se não fosse trágico! Ouvi absurdos, mentiras descaradas, discursos vazios. O candidato que prefiro, aquele que, para mim, tem as melhores propostas, denunciou nervosismo. Não está habituado aos jogos de palavras, é autêntico e verdadeiro.
Mas ouvi o candidato comunista, ele que há anos é vereador, falar sem memória. Ouvi-o apregoar bandeiras desfeitas: - Portalegre era industrial (e a minha avó estava viva); temos de reivindicar (e que tal fazer?); os comunistas dantes eram acusados de comer criancinhas (e hoje comem caviar, deslocam-se de Mercedes e vivem em condomínios fechados)
O candidato do PS apregoou Cimeiras. Cimeiras quinzenais... Parece-me bem, sempre há-de haver emprego para os que terão de ir fazer número na assistência inexistente.
O candidato do BE queria lembrar que quem inventou os enchidos foram os agricultores. Sorte não se ter lembrado de defender os direitos do porco, ou lá se ia a farinheira e a morcela cozida da nossa terra...
O PSD disse o óbvio. É preciso fazer. Pois...
A senhora presidente falou de um concelho que não é o meu. Falou de um concelho onde tudo está bem, do emprego à recuperação do património. A dada altura, pensei que estaria a falar de Portalegre no Brasil...
Enfim. daqui a pouco, há 50 anos que aconteceu a Revolução e a democracia continua, a meu ver, longe de estar consolidada. 
Olho e oiço tudo com angústia. Porque gostava que fosse diferente! Porque tenho muita pena - mesmo! - de continuar a assistir a jogos de poder/podre e não, como já é tempo, a exercício real de cidadania.
Há uns dias, a minha neta inglesinha, de 4 anos, perguntava ao passar na rotunda do Navio: - Avó, porque é que em Portugal põem os senhores feios nas paredes?É castigo? - Na altura expliquei a razão. Hoje, acho mesmo que merecem um castigo!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

PARA TRÁS???

Eu própria estou cansada de ouvir, e de afirmar, que a mudança é inegável mas que, ainda assim, implica sempre desconforto e resistência... Devia, por isso, olhar calmamente os saudosistas, os que enchem páginas de jornais e facebooks afirmando que dantes, quando a escola ensinava e distinguia, separava e excluía, é que era bom. São os mesmos que alegam que são mais felizes as crianças que jogaram à macaca, do que as que têm computador! Como se pudéssemos comparar o passado, mesmo o recente, com o presente vertiginoso que vivemos. 
Não consigo, ainda que tente, olhar com indiferença os apelos ao retorno à Escola do passado. À tal escola que era só para alguns, que funcionava visando, essencialmente, responder a necessidades de uma sociedade de classes. Era a escola Fordiana, que produzia meninos como quem produz automóveis, todos em série, sentadinhos nas carteiras a ouvir, ou a fingir que ouviam, os professores. Irrita-me a dificuldade, excessivamente generalizada, que os adultos têm em aceitar a mudança. Pior, apavora-me encontrar ainda alguns professores muito preocupados com os testes sumativos, com as classificações, com as regras que nada dizem aos que têm de as cumprir!
É preciso, sim, que haja disciplina, que as aprendizagens aconteçam. Mas é preciso MUITO PRECISO que essas aprendizagens sejam alicerces duradouros, que sejam ecléticas, que sejam dinâmicas e úteis. É preciso que os professores aceitem que cada aluno é um ser exclusivo, que as aprendizagens acontecem em acção, que não faz sentido continuarmos a tentar (sem resultado) ensinar como nós aprendemos...
Setembro está a chegar. Tenho uma montanha de sonhos para realizar e um medo, uma cordilheira de medo, das resistências que vou encontrar!

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

TÃO JOVENS

17 anos. 22 anos. 16 anos. 21 anos. São muito jovens os terroristas de hoje. São pessoas com, teoricamente, um futuro pela frente, uma vida a preencher de coisas boas, que escolhem matar e, muitas vezes, morrer. 
Porquê? Que há gente má, já o sabemos. Que há loucos, também não é novidade. Que há grandes senhores a pagar para  espalhar o horror, também não é nada que surpreenda (embora indigne!). 
Mas porquê tão jovens? Talvez seja a minha alma de professora a falar mais alto mas vejo, nestes jovens, um desalento de quem está perdido. Jovens que se deixam manipular, usar, pelo Mal, sem que a sociedade humanista (?) se preocupe em indicar-lhes o caminho do Bem. 
Talvez procurem fama, talvez um grupo a que pertençam, talvez uma forma de aceder à individualidade reconhecida. Não sei... Mas, na minha estupefacção, penso que o ódio crescente que os jovens praticam deve exigir às Escolas um olhar atento. E sério...
Não há mais lugar, defendo eu, para a Escola que exclui, para a Escola que olha cada um como sendo um todo. Não há mais lugar para aprendizagens compartimentadas! Urge, e talvez seja mais uma Revolução deste século, olhar cada um de forma individual, dar espaço aos afectos e às relações humanas, permitir percursos de aprendizagem inovadores e personalizados. Urge abrir as portas da sala de aula ao gosto de aprender... 
Aproxima-se o início de mais um ano e não podemos - TODOS - deixar que tudo siga igual. Como se não houvesse presente, como se a mudança social não estivesse a gritar presente!

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ADIAMENTO

Lembras-te da viagem que, um dia, haveríamos de fazer os dois? A dois? Lembras-te da conversa que haveríamos de ter, a dois? Lembras-te das promessas, tantas, de um dia..., a dois, para dois, sempre? lembras-te dos copos de pé alto que compraste para, um dia, bebermos aquele champanhe francês que jaz na garrafeira há dez anos? Lembras-te da promessa de voltar a Barcelona? De passear por Roma e nos perdermos, um no outro, a dois, nas ruelas ruidosas? 
Pois se lembras, esquece. Porque há um Tempo marcado para o sonho. Um Tempo em que os possíveis acontecem, ou não. 
Se não,  diluem-se nos adiamentos. Por isso, se te lembras, esquece agora! Esquece porque a viagem já não faz sentido, o copo partiu-se e o champanhe poderá sempre ser um presente de Natal para um amigo especial.
Esquece. 
A mim, dai-me Senhor, a paz do esquecimento!

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

DANÇAR

Olá,
Escrevo-te a ti. A ti que não  existes, a ti que, às vezes, pareces existir no outro lado do meu eu. Escrevo-te porque me apetece conversar. Não quero conselhos - estou tão farta de quem sabe tudo! -, não quero razões alheias - ficam-me curtas -, não quero sequer concordância - não podes concordar com o absurdo!
Quero, só, que oiças. Ou leias, o que, neste caso, é exactamente a mesma coisa. Ouve então. 
Ouve o descompasso do meu coração, ouve o desejo contido de um quotidiano diferente. Não fales! Ouve a minha mágoa de não conseguir ser outro eu, escuta o meu desejo de paradoxos absolutos. Com atenção, sem suspirares de cansaço, deixa-me enumerar os meus medos. Os medos de cada hoje. Dessa fileira de hojes que, abusivamente, transformam o futuro em ontem.
Estás cansado de ler? Só mais um pouco. Um pouco para te contar da macieza da areia, na zona da rebentação do mar que me assusta. Um pouco para te lembrar a música que faz o barco, quando rasga ondas. Música... Aquela que nos ilumina no abraço ritmado. 
Isso. Vamos dançar?

OPTIMISMO

O Verão não contribui mesmo nada para a minha felicidade. Sou, invariavelmente, atacada por uma lassidão, uma vontade extrema de jibóiar que me causa uma inexplicável angústia. Normalmente, esgoto as horas de calor à beira da piscina, na companhia de um bom livro e de muitos sonhos. 
Este ano, por força das circunstâncias, ainda não pude hibernar (ou deveria dizer hiveranizar?) e o meu  quotidiano escaldante está a dar cabo de mim. É um processo de transformação, este de passar as manhãs na escola, durante o mês de Agosto... Mas, afinal, transformação é o que eu, muito sinceramente, gostaria que acontecesse na Escola, em particular naquela onde trabalho, por isso não é mau que eu sofra na pele algumas das dores que transformar implica.
E é assim. Apesar do calor, de alguma irritação, de muitos receios, de confrontos adivinhados, estou optimista. 
Vá lá eu entender-me...

segunda-feira, 3 de julho de 2017

FUMO E NEVOEIRO

Nunca fui apoiante deste governo mas, admito, cheguei a pensar que as coisas estavam a correr de forma aceitável. Claro, eu sabia, como toda a gente, que a Sorte bafeja os incautos... Aconteceu sermos campeões europeus, ganharmos a Eurovisão, sairmos do policiamento económico, e tudo isso ajudou a levantar a moral dos portugueses. Para mim, acresceu o facto de estar absolutamente de acordo com as medidas educativas, ser uma confessa admiradora do actual secretário de estado e acreditar, mesmo!, que o caminho do sucesso educativo pode ser feito já.
Ora, infelizmente, os últimos acontecimentos fizeram-me cair bruscamente na realidade: - Este governo não governa, faz gestão à linha de margem, o que significa gerir para a fotografia. 
O horror de Pedrogão, com 500 casas destruídas, 64 mortes, muitas empresas e milhares de hectares ardidos deixaram a nu o desnorte do governo. Ninguém age de facto, ninguém explica, ninguém assume responsabilidades. No entanto, alguém pede um estudo para ver se o fogo chamuscou a imagem dos governantes... 
E ainda mal refeita desta barbaridade, confronto-me com o assalto a Tancos. Armas importantes e numerosas a desaparecer, ausência de vigilância, desgoverno total. 
O ministro dos negócios estrangeiros, acabei de ouvir, diz que também acontece noutros países, o general diz que a rede estava a ser consertada, o ministro da Defesa diz que já tinha autorizado a recuperação da video vigilância...
É uma situação grave demais para se poder asneirar assim! Demitem os coronéis, mas continuam os ministros e os generais. 
Este governo, afinal, não governa. Não sabe sequer guardar a casa! Este governo assusta! Este primeiro-ministro, tão optimista e sorridente, faz férias em Espanha enquanto o país é assaltado...
Ah Portugal! Hoje, já nem és nevoeiro... Tornaram-te fumo apenas!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Os Grandes Egos

Freud nunca deve ter imaginado o que a sua constatação científica havia de provocar no mundo. Cada vez é mais difícil, acho eu, gerir egos. Porque toda a gente, ou muita gente, sobretudo se de inteligência reduzida, apresenta um ego do tamanho do mundo! Da altura do ego, colocando-se em bicos de pés, exigem protagonismo, um lugar na primeira fila da vida, reconhecimento de coisa nenhuma. Os grandes egos são, um pouco, como os pseudo-sábios, aquelas pessoas que estão tão seguras de tudo saber que não conseguem olhar para além do seu umbigo! Normalmente, os grandes egos vestem-se de hipocrisia, gostam do anonimato, da conversa escondida, da rasteira desonesta...Por tudo isto, e por mais muitas coisas que nem ouso escrever, os que incham o ego não sabem pedir desculpa, não sabem reconhecer falhas. Apontam sempre o dedo, adoptam a técnica da vitimização e chateiam que se farta quem com eles se cruza!
Se fosse possível recuar no tempo, eu diria a Freud que reconsiderasse as suas descobertas científicas...

domingo, 18 de junho de 2017

HORROR

Ainda não foram criadas as necessárias palavras para dizer o horror e o violento absurdo que aconteceu, e continua a acontecer, na zona centro do país. Pedrógrão Grande, Leiria, muitas pequenas aldeias que nem sabia que existiam, tudo engolido pelo fogo, pintado de negro pela morte. Carros carbonizados, corpos perdidos numa tentativa de fuga desesperada, o inferno a fazer-se verdade.
Não sei se há culpados. Talvez, no fundo, todos sejamos culpados pelos sucessivos atentados à natureza, pela construção desenfreada, pelo desrespeito pelas espécies autóctones e a inserção de árvores invasoras; ou talvez não haja culpados, porque as trovoadas secas acontecem, porque os horrores o são em si mesmo. Vejo as lágrimas de tanta gente e sinto uma dolorosa impotência. Não consigo deixar de pensar que todos devíamos fazer mais...
Olho a Serra e penso que podia ter acontecido aqui. De repente, as minhas tristezas e desilusões tornam-se ridículas e insignificantes. Os meus desamores, as minhas revoltas, as minhas lutas por algo melhor, nada faz sentido face à imensidão do horror que o fogo espalhou. Queria, agora, a paz do esquecimento, como canta o Zambujo na minha solidão.

domingo, 4 de junho de 2017

TERRORISMO E MEDO

Continua o terrorismo, o ódio, a violência sempre injustificada. Olho Londres, essa cidade de que tanto gosto, os lugares onde fui imensamente feliz, e a raiva revoltada cresce. Porquê?! A responsabilidade não é de Alá, de Deus, ou seja lá qual for a divindade que queiram invocar. Não me convencem os argumentos de que os cristãos, no movimento das cruzadas, fizeram o mesmo. Era outro mundo, era outro saber (ou não saber) eram outras circunstâncias. O que vejo, hoje, são jovens que procuram a morte matando, movidos por fraquezas, por inadaptações diversas, por maldade manipuladora e gritante. 
Sou professora e tenho medo. Como explicar às crianças, aos jovens, este fenómeno em que se tornou o terrorismo? Como explicar as contínuas mortes no mediterrâneo, afinal outra forma de terrorismo da responsabilidade de tantos actores? Olho com medo físico aqueles com quem me cruzo, abraço os meus netos com a angústia que o pânico provoca. 
Que mundo é este? O que fizeram do nosso mundo e, mais grave, o que continuamos nós a permitir que façam da humanidade que integramos? Uma vez mais, penso que a educação tem responsabilidade. É urgente educar pessoas, muito mais do que instruir criaturas. É tempo de trabalhar valores, de dar o exemplo do Amor, da entrega ao outro, da Liberdade e do respeito. É tempo de substituir a Escola dos testes e da segregação. Urge incluir, trabalhar o direito à diferença e respeitar a tal Pessoa que mora em cada aluno... Nietsche falava no Novo Homem. Está a acontecer, mais de 100 anos depois do anúncio?
Olho as notícias que me chegam de Londres e penso que há muito para fazer. Acredito que é possível fazer alguma coisa! 
Talvez, nesta loucura de dinheiro e tecnologia, tenhamos esquecido de que massa se fazem os humanos. Talvez ainda seja tempo de  construir um mundo possível!

domingo, 14 de maio de 2017

DOMINGO

Eu devia estar a trabalhar. Tenho um terrível trabalho de contabilidade (?!) para fazer... mas não me apetece! Então, revolvo a minha memória de afectos e recupero histórias:
CAMPONESA
Era uma escola antiga, daquelas a que, mais tarde, pomposamente se chamaria do Estado Novo, ainda que o estado delas fosse velho, e o Estado também… situava-se na única rua alcatroada, aquela rua /estrada que atravessava a aldeia. De um lado do edifício, gémeo, pintado das mesmas cores e com o pau da bandeira ao meio, nariz austero e ameaçador, estudavam as meninas; do outro lado, os rapazes. As professoras, de bata branca e sapatos rasos, entravam pela porta da frente, de madeira escura, forte, parecendo disposta a, diariamente, engolir a juventude das mestras. As crianças, que então se chamavam gaiatos sem a distinção por sexos que o edifício impunha, chegavam pelas nove, elas penteadas, eles de boné, carregando sacolas e, alguns mais endinheirados, pastas de cabedal que algum sapateiro jeitoso lhes fizera. Não havia toques. As senhoras professoras, que tinham um grande relógio teimoso na parede, chegavam à porta e baiam as palmas. A criançada alinhava e entrava nas salas, respeitando a ordem e procurando a carteira onde os mais pequenos, os do primeiro ano, nem chegavam com os pés ao chão.  Habitualmente, juntavam-se várias classes, até as quatro, se fosse preciso, e a professora lá ia distribuindo tarefas e orientando trabalhos. A minha sala, a sala dos rapazes embora eu fosse rapariga (hei-de explicar porquê) tinha uns enormes mapas rasgados pendurados num gancho. Era o mundo onde eu me perdia, tentando descobrir nomes de países que me pareciam tão impossíveis de alcançar como o País das Maravilhas que eu lia, à noite, num enorme livro ilustrado que uma tia me tinha oferecido.
Mas vou contar porque estava eu, menina, na sala dos rapazes. Vivia eu, então, numa cidade de província com apenas um colégio e, quando fiz seis anos, tendo aprendido a ler sem que ninguém percebesse como nem onde, foi preciso matricular-me. Então, nesse ano, o Colégio estava cheio e eu não tive vaga. Como não tinha ainda sete anos, poderia ter esperado um ano, mas eu já lia! Então, a minha mãe, que sempre foi profícua em ideias estranhas, lembrou-se de me enviar para a aldeia, todos os dias, no velho Anglia da professora Rita.
A Rita era uma professora vermelhinha, cheirando a naftalina e sabão azul, solteirona e que gostava muito de nós – de mim, e dos meus irmãos. Como, nesse ano, a Rita dava aulas no lado dos rapazes, eu lá fiquei, isolada do perigoso género masculino, estando no meio deles…, sentando-me, qual rata sábia, na secretária da professora. Lembro-me de me olharem com estranheza, de abanar os pés que não chegavam ao chão, e do cheiro de feijão com couve que a Rita levava numa marmita e aquecia num fogareiro para comigo partilhar o almoço.
Nesse ano, não tinha amigos de escola. Via-os de longe, a jogar à bola, a correr, mas a Rita nunca deixou que eu alinhasse nas brincadeiras masculinas e, assim, o meu primeiro ano, então primeira classe, foi um tempo triste, numa escola que eu nunca compreendi.
Como se não bastasse, o meu irmão chamava-me camponesa e eu, embora não percebendo o insulto, detestava a palavra que me cheirava a terra por lavrar!
Seria compreensível, creio eu, que tivesse ganhado uma profunda aversão à Escola. Mas, por razões que talvez o diabinho possa explicar, isso não aconteceu e, desde os meus tempos de camponesa, nunca mais abandonei as salas de aula…




sábado, 13 de maio de 2017

13 de Maio

O Santo Padre Francisco esteve em Portugal. Na impossibilidade de o acompanhar ao vivo, estive sempre colada à televisão. 
A minha fé não tem a força que eu gostaria, eu não sou tão boa pessoa como desejo, mas o Papa Francisco emociona-me, comove-me, faz-me repensar a minha existência.
Creio em Deus. Num Deus Ideia de bem, sem céu nem inferno, que nos dá o fascínio do livre-arbítrio, que nos oferece a Vida cheia de opções, de caminhos e possibilidades. Muitas vezes, muitas mesmo, olho o meu Cristo, aquele que me foi oferecido no dia do meu casamento pelo Dr. Rodrigues, e desabafo com ele, peço ajuda, peço um mapa. A presença Dele é constante e eu sei, mas sei mesmo, que no silêncio me acompanha. 
Gostava de ser uma pessoa melhor. Gostava de ser capaz de perdoar muito mais, mas sei que, mesmo falhando, Ele me aceita. O Papa Francisco é um pouco/muito esse Ele que eu conheço. Olhando o Papa Francisco tenho imensa vontade de me ajoelhar e, simplesmente, chorar...

terça-feira, 2 de maio de 2017

APRENDIZAGEM

A vida ensina-nos muito. A mim, pelo menos, tem-me ensinado imenso, de forma dura, e de forma suave também. A vida ensinou-me, então,a conhecer as pessoas que valem a  pena e a ignorar, sem que isso me magoe, aquelas pessoas negativas que se divertem insultando e ferindo. Cada vez mais, felizmente, sou capaz de ignorar completamente o lixo humano e, talvez por isso, tenho cada vez melhores amigos. É que há muitas pessoas que valem a pena e, tenho a certeza, são muito mais as que importam, do que as que nem para reciclagem servem...

quinta-feira, 27 de abril de 2017

INDIGNAÇÃO

A minha revolta indignada hoje não tem tamanho. O 25 de Abril festejou-se há três, aconteceu há 43 anos, e os absurdos que limitam e condicionam a Liberdade continuam a verificar-se. Cala-te! - Dizem-me os mais avisados; desiste. 
Mas eu não me calo, e não desisto. Não posso calar-me perante a injustiça. não desisto nunca da minha luta pelo que são valores essenciais numa sociedade humanizada.

A minha indignação revoltada cresce quando tudo acontece numa Escola. Num espaço de, teoricamente, aprendizagem de cidadania e de valores!
É numa escola que alunos, insatisfeitos com a avaliação e com a dinâmica na sala de aula, manifestam, pelos meios que têm ao seu dispor - o director de turma! - a sua opinião. O director de turma, de forma aberta, verdadeira e leal, apresenta em conselho de turma  os documentos e o assunto é analisado. Estaria o caso encerrado porque, parece, o ser humano dispõe da capacidade de dialogar e de reformular... mas não! Os alunos são, posteriormente, criticados, confrontados com cartas (que me abstenho de classificar) enviadas aos encarregados de educação. Mais grave: - A culpa, porque há quem viva de culpados..., é do director de turma. Porquê? Porque foi leal, porque ouviu os alunos, porque considerou que os jovens devem dizer o que pensam, devem ser ouvidos e devem ver tidas em conta as suas opiniões.

Como é possível que, em pleno século XXI, jovens sejam condenados por expressarem as suas opiniões? Por manifestarem o seu descontentamento? Como é possível que, numa Escola, se reúna sem a presença dos envolvidos, amedrontando jovens?
Ah! Curiosamente, esta é a Escola onde a cidadania pesa 10%... Talvez isto explique muita coisa.
Não me calarei. Nem com processos de averiguações, nem com ameaças veladas, menos ainda com o triste sucesso da mentira e da hipocrisia!

sábado, 22 de abril de 2017

DÉCIMAS

Não consigo compreender o mundo em que vivo. Amanhã, há eleições em França, há dois dias houve novo atentado e o meu país fala de futebol. Vivemos com um louco ignorante a comandar uma das maiores potências do mundo, e discutimos se o Benfica é melhor do que o Sporting...Olho à minha volta, estou sozinha com o meu cão no silêncio da minha casa,  e penso que as pessoas que têm poder no mundo enlouqueceram. 
Na Europa, nesta Europa que alguns pretendem ser unida, enquanto o mediterrâneo se transforma num cemitério de sonhos, discutem-se, com pompa e circunstância, as décimas dos défices e dos lucros! Nas escolas, perante o aumento do desinteresse e da indisciplina, os professores inventam novas grelhas excel. Falamos de cidadania, e executamos a hipocrisia. Apregoamos a solidariedade, e praticamos o egoísmo. Eu não percebo o mundo que integro! Sinto que vivemos de décimas e isso, francamente, parece-me excessivamente insuficiente!

terça-feira, 18 de abril de 2017

KEN FOLLET

Acho que li todos os romances de Ken Follet. Descobri-o por acaso, há uns anos, e tenho lido com interesse tudo o que publica. Não é, penso eu, um Nobel, mas é, sem dúvida, um óptimo contador de histórias que mexem connosco - comigo. Acabei, ontem, tarde na noite, de ler "Uma terra chamada Liberdade" e, uma vez mais, ainda tenho comigo as emoções do enredo, a intensidade das descrições e a radiografia rigorosa feita às personagens. 
Não foi o cinzentismo da Escócia do século XVIII,  a escuridão de uma Londres enegrecida pelo carvão, ou sequer o verde que pinta a esperança do Novo Mundo que mais me marcaram. Desta leitura, desta vez, ficou-me a constatação revoltada da maldade que existe nalgumas pessoas e que, seja no séc XVIII ou XXI continua a fazer-se notar...

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Marias e Manéis

Chamava-se Maria. Como mil e muitas miúdas da sua idade, como muitas meninas sem idade porque sem identidade. Esta Maria, da minha ficção, era aluna aplicada e, diziam-lhe, aprendia a crescer e a ser Pessoa. Curiosa, perguntava, por vezes, se ela não era já pessoa. E explicavam-lhe que existir não é, afinal, sinónimo de ser. Que há quem exista, e nunca seja pessoa. E falavam-lhe de coragem, de garra, da necessidade de lutar por aquilo em que acreditava, da importância de ter opinião, de ser frontal e justa. Diziam-lhe, muitas vezes, que tinha a obrigação, mais do que o direito, de participar e ajudar a construir um mundo diferente.
E a Maria ia à Escola.
Um dia, a Maria esbarrou com a hipocrisia adulta, com o cinismo, com a maldade que, tantas vezes, reveste a estupidez. E a Maria interrogou-se: - Afinal?...
Pois é querida Maria, lutar por um mundo melhor é isto: esbarrar com a estupidez, muitas vezes até licenciada e mestrada, e continuar lutando pela Verdade e pela Justiça.
Que as Marias nunca desistam! E os Manéis as acompanhem!

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Era sempre assim. Do mosto da vida fazia, com a máquina da memória, a bebida que a alimentava na rotina da vida, Sucediam-se Invernos, Natais, Primaveras e Páscoas e ela, religiosamente, como quem reza a oração do silêncio, acumulava memórias. Todas lhe faziam falta. As boas, muitas felizmente, davam sabor aos momentos que, agora cada vez mais, se tornavam amargos; as más, muitas infelizmente, serviam-lhe de alerta, luzes no corredor da vida, evitando, por vezes, outros erros ou enganos... 
Agora, de novo Páscoa, saltava o mosto de outras eras de renovação. 
Em miúda ouvia a sirene, comia borrego (que saudades daquelas batatas), trincava amêndoas e esperava o coelho branco que, garantiam os adultos desaparecidos, era um ser mágico que semeava ovos coloridos para as crianças. Era bom ter sido criança. Talvez, agora pensava, fosse bom ser criança por nunca se esperar do mosto senão que fosse mosto. Depois, crescendo, a mania de esperar por outras bebidas, o vício de desejar diferentes sabores, acabavam por estragar muitos menús...

sábado, 8 de abril de 2017

COISAS ABORRECIDAS

Não gosto nada de calor. Pior, não gosto de calor antes do tempo e odeio os espirros e as comichões que a Primavera sempre me impõe. Ao contrário do comum dos mortais, prefiro a chuva e o frio, a protecção abraçada de um casaco quente e o conforto das botas. Mas como, felizmente, a Natureza se está nas tintas para as preferências de cada um, aí está Primavera e os polens na sua máxima força.
No meio deste mau estar, que nada alivia, tenho de trabalhar e, o que para mim é o pior, tenho de continuar a cruzar-me com a hipocrisia e  cinismo personificados. Gostava de conseguir compreender, para poder aceitar mesmo discordando, as razões que levam a que professores - logo, pessoas com cultura e formação - actuem nas costas, critiquem na ausência e, pior, utilizem espaços onde eu não tenho assento para criticar o que defendo. E o que defendo de tão grave? Uma Escola preocupada em ajudar os alunos a aprender, salas de aula de século XXI, investimento em  metodologias de projecto, critérios de avaliação que fomentem as aprendizagens, menos horas de aulas formais, actividades de enriquecimento cultural ao longo do ano, equipas pedagógicas centradas no conselho de turma. Talvez eu não tenha razão, mas, de certeza absoluta, quem não tem coragem de discutir ideias e age com processos de averiguações movidos contra quem discorda, está definitivamente perdido.
Às vezes, não tenho nenhuma consideração por alguns professores. Felizmente, para mim, conheço outros que são profissionais excepcionais! 

sexta-feira, 24 de março de 2017

POUCA VERGONHA?? Ou...

Quando eu penso que está esgotada a minha capacidade de indignação, eis que algo surge para me lembrar que, afinal, o absurdo é infinito. 
Estou revoltada, indignada e, admito, também ofendida. Falo, concretamente, do que acontece com os Agrupamentos de Exames que funcionam dois meses no ano, coordenando os exames por distrito, que são constituídos por PROFESSORES CONVIDADOS que são pagos com valores elevados. Não sei se é este o valor real, mas não será menos de três mil euros por cada professor, a juntar ao vencimento mensal. 
Acho absurdo que sejam professores convidados, mais ainda podendo ser docentes que nem sequer têm vínculo ao sistema. Mas acho ainda mais absurdo, e escandaloso, que seja possível um professor passar um ano lectivo gozando - literalmente!- de atestado médico e ingresse nesta privilegiada equipa. 
Duvido da necessidade de um Agrupamento de Exames, questiono a complexidade do trabalho desenvolvido mas, muito para além disso, revolta-me o que encaro como oportunismo e sem vergonhice. Estou revoltada! Porque eu acho que os professores são, ou deveriam ser, profissionais sérios e isto é, para mim, uma clara desonestidade! Será que a comunicação social sabe disto? Será que os Sindicatos pactuam com esta forma de agir? Infelizmente, de nada serve a minha revolta indignada. Somos um país de hipocrisia e aparência...

segunda-feira, 20 de março de 2017

AZEDUME

Há pessoas azedas. Não azedas porque passou o prazo de validade, como os iogurtes, mas azedas por terem, muitas vezes elas próprias, falhado os prazos de validade de vida. São pessoas que carregam na boca balas, atingem quem se aproxima e nunca, ou raramente, são capazes de elogiar a diferença, sobretudo se ela é de qualidade. Estas pessoas circulam por aí, orgulhosas e frias, arrotando sentenças e verdades que, quase sempre, ficam curtas aos outros. As pessoas azedas, acho eu, deviam usar um rótulo identificativo, como os da ASAE, para que soubéssemos, incautos mortais, os riscos que corremos por andar por perto.
Não gosto de pessoas azedas. Não gosto de quem nunca sorri, de quem sempre agride e insulta, de quem não é capaz de elogiar ou mimar.
Gosto de pessoas positivas, que se entregam e se dão, que aceitam mesmo sem compreender, que discordam sem condenar. Gosto de palavras boas, e acredito, como o Principezinho, que podemos sempre cativar o outro para, exactamente, cuidar dele. 

domingo, 19 de março de 2017

Dia do Pai

Olá, Pai,
Estás aí? A minha fé insegura diz-me que sim. Que continuas vendo-me, amparando-me. O pragmatismo do meu neto faz-me sorrir, avó no céu não está ninguém porque eu já lá fui muitas vezes, e duvidar também. Dizem-me, as vozes da razão, que estás vigilante. Pai, às vezes não te sinto mais. E tenho tantas saudades, fazes-me tanta falta.
Tenho-te na memória, nas conversas pelos campos espreitando a caça, nos almoços de domingo que sempre gostavas de fazer fora, na mesa
cheia de amigos, ao pé da fonte. Sabes Pai, já não há fonte. Já não há a varanda de onde, garantias tu, se espreitássemos por baixo das pernas se via ao mar. Não há nada, Pai! 
Há, agora, um imenso vazio, uma ausência de colo que me fere e faz sofrer. Tudo desapareceu, como tu, deixando em mim uma dor que sangra a cada dia. Um dia eu vou também, com o Tempo, para esse lugar talvez inexistente onde, se não estiver mais o teu abraço, estará a paz do nada. Fazes-me tanta falta... Hoje, era o teu dia. Coisas os homens, porque, quando se ama um Pai como eu te amo a ti, o calendário não chega. Agora Pai, já não vou para casa. Porque não há casa, não havendo tu. Queria tanto-tanto dar-te o beijo que te envio ...

domingo, 12 de março de 2017

AVALIAR?

Um destes dias, na escola onde trabalho, discutia-se a avaliação. É, admito, um tema que me é caro, que me preocupa e mobiliza. Avaliar, não tenho dúvidas, é sempre formular juízos sobre algo, ou alguém, e tem sempre, necessariamente, uma carga de subjectividade. Penso, pois, que muito mais importante do que avaliar aquisições, ou aprendizagens, a Escola devia avaliar PARA as aprendizagens. Ou seja, não se limitar a classificar instrumentos de avaliação e, muito para além disso, fornecer ao aluno, a cada aluno individualmente, ferramentas, pistas, indicações, que lhe permitam ultrapassar as dificuldades e aprender de facto Dizia-me então uma colega que com trinta alunos isso é utopia. E eu SEI que não o é! Basta que cada professor trabalhe de outra forma, que organize a sala de aula de modo a permitir que o processo se centre mais no aprender, do que no ensinar. Eu acredito, e sei como fazer!, que a Escola de hoje tem de se transformar num lugar de desenvolvimento de competências, de inclusão, e não de exclusão. Eu acredito que a Escola tem de ser um lugar de sucesso e não de frustração.
Às vezes, quando encontro alguns colegas como esta que refiro, apetece-me desistir de lutar por uma Educação melhor. Mas desistir da Educação é desistir das PESSOAS, e isso eu nunca farei.