quarta-feira, 30 de setembro de 2015

MUDANÇA

Quanto mais leio, estudo, observo, ensino, mais me convenço (como se precisasse de ser convencida) que a Escola, como Instituição, tem de mudar. Obviamente, trata-se de uma estrutura complexa, secular, que lida, essencialmente, com seres humanos e, por isso, as mudanças são lentas e nem sempre visíveis ou mensuráveis. Mas, para além de todas estas verdades indiscutíveis, eu acho que a escola tem de acelerar o seu processo de mudança. Não falo daquelas pedagogias irrtantes (para mim) que defendem que não é preciso ensinar, que os meninos descobrem, que tudo é alegria e prazer, que uma equação pode ser uma descoberta fantástica, e compreender Fernão Lopes uma revelação mágica. Não. Eu defendo que aprender implica, sempre, esforço e trabalho. Defendo, cada vez mais, aprendizagens activas, que resultam do envolvimento de cada um. Mas também defendo, com muita força, que a escola silenciosa, com os meninos em fila e o professor a projectar slides, ou a mostrar youtubes, ou a usar o quadro interactivo,  não ensina e de nada serve! 
Na escola onde trabalho há portas de vidro e, sinceramente, passar no corredor e ver os rostos desinteressados, o olhar desesperado, da maioria dos alunos fechados nas salas de carteiras alinhadas parte-me o coração. A Escola que defendo é uma Escola de acção, de muitas narrativas, de discussão e construção, de colaboração efectiva. 
Não acredito na Escola de hoje, e tenho pena. 
Tenho pena de verdade, porque uma sociedade onde a Escola não funciona nunca será uma sociedade de sucesso!
Se eu pudesse, obrigaria a Escola a reconstruir-se, faria compreender que, por exemplo, coadjuvância não é ter dois professores a tentar manter a turma calada, que supervisão não é penalização, que aprendizagem colaborativa não é apenas realizar trabalhos de grupo. Se eu ainda tivesse forças, havia de lutar por uma Escola diferente...É que eu SEI, cum saber de experiência feito, que é possível fazer diferente. E melhor!

terça-feira, 29 de setembro de 2015

COMPRAS

Embora eu seja mulher, e embora goste imenso desta condição, não gosto de fazer compras. Devo ser uma excepção, mas a verdade é
 que as lojas, os expositores, os sorrisos das funcionárias, os preços, a muita oferta, tudo me cansa. Ir às compras é, por isso, algo que evito o mais que posso... Mas um casamento muito especial já no sábado próximo, obrigou-me a enfrentar o meu Adamastor. Bem cedo, lá fui a caminho de Lisboa e lá me enfiei nas lojas. Tenho de reconhecer que tive sorte... É dia de semana, fui de manhã, não tive de enfrentar ondas de gente. Fiz as minhas compras, com a ajuda das funcionárias, e sentindo a falta das minhas filhas (óptimas conselheiras de moda), e regressei a casa.
Quando cheguei, uma violenta trovoada recebeu-me com estrondo. E eu adoro trovoadas! Olhando os relâmpagos rápidos, escutando os estrondos dos trovões e cheirando a chuva sobre a terra seca, senti que, de algum modo, a natureza me compreendeu e explodiu por mim...

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Do Outro Lado

Dizem-me, muitas e muitas vezes, que tenho de me esforçar por ver o outro lado dos problemas. Eu protesto. Do outro lado dos problemas vejo, habitualmente, outros idênticos ou um cinzentismo assustador... Mas, desta vez, o milagre aconteceu!
Eu explico: - Uma besta qualquer, é mesmo assim, amachucou o meu carro e fugiu. Eu fiquei com o prejuízo e, para complicar tudo, fiquei a pé. Lembro, para quem não sabe, que moro a três klms do meu local de trabalho.
E foi aqui que a magia aconteceu: - Quando me preparava para gastar uma data de dinheiro em táxis, e uma considerável sola de sapatos, os amigos revelaram-se. Ainda não andei a pé, ainda não chamei um táxi. Tenho tido queridos motoristas, bons e confortáveis automóveis e, melhor ainda, ganhei mais algum tempo de boa conversa. Acho mesmo que a cavalgadura que me amachucou o carro acabou por me fazer um favor: - Revelou-me mais amigos verdadeiros do que eu julgava ter! De facto, há sempre que ver o outro lado do problema

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O TEMPO

Eu ando de mau humor. Reconheço que ando com pouca paciência, que as coisas insignificantes (como a cobardia e estupidez ) me irritam muito mais do que deviam. Ando triste, desiludida, sofrendo intensas e escandalosas saudades. Ando com pouca, ou nenhuma, paciência para o culto das aparências, para o silêncio socialmente correcto face à maldade vigente. 
Não sei porque ando assim. Não sei se a culpa é de estar a envelhecer (afinal, já estou a envelhecer há 55 anos, devia estar habituada), se é porque está calor e eu detesto calor, se é porque a campanha eleitoral causa excessivo e incomodativo ruído, se é porque o meu Benfica não vence sempre. Não sei. O que sei é que ando neura e com uma enorme vontade de não existir. 
No entanto, a existência impõe-se e eu vou vivendo. Vivendo, agora. Neste tempo de nihilismo, nesta era de novo Homem eternamente adiado. Este é o tempo do ruído, da internet, dos telemóveis inteligentes, do MEO 4 cheia de humor, dos políticos em quem ninguém acredita, dos jovens com os boxeres à mostra e cristas no alto na cabeça. Mas este é, também, o meu tempo! Por isso, não percebo porque me perguntam se isto, ou aquilo, era "do meu tempo"! O meu tempo é este. É este presente futuro do passado, é este passado de um futuro a haver!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O 1º Dia de Escola

Com as aulas a começar, e a rádio que me acorda a falar de primeiros dias, tenho hoje carregado mais viva a memória de alguns dos meus primeiros dias de aulas. 
Quando tinha seis anos, onde ficou esse tempo?, entrei para a primeira classe. Então, não havia nada básico, era mesmo primário. Como, em Portalegre, não havia, nesse ano, vaga para mim no Colégio onde andavam os meus irmãos mais velhos, a minha mãe, que sempre foi uma senhora de ideias estranhas, decidiu enviar-me para a Alagoa com a professora Rita. 
A professora Rita era uma solteirona, na altura só solteira, de bochechas vermelhas, baixinha, sempre corada e que, para além de ter um Anglia, na época eu só sabia que o carro dela tinha bancos vermelhos, tinha em casa um piano e cheirava a naftalina. 
A professora Rita ia buscar-me a casa, bem cedo, e levava-me com ela para a Alagoa. Na escola da aldeia havia a sala dos rapazes e a das raparigas e, para meu azar, a professora Rita dava aulas aos rapazes. Eu, menina da professora, ficava sentada na secretária dela, de frente para os meninos, tipo rata sábia. Nos intervalos, em vez de brincar, ficava "a conversar" com a professora Rita e, penso agora, morria de inveja dos meninos que, na terra, esfolavam os joelhos ou saltavam na lama. Almoçava com a professora, um almoço que ela preparava para mim e aquecia, na escola, num fogareiro de um só bico. Ainda sei o sabor do arroz de carne... Quando voltavamos da escola, eu continuava em casa da professora, até que, ao fim do dia, alguém me fosse buscar. Era, então, o meu momento de descoberta. A casa era enorme, muito escura e cheia de cheiros, e eu podia tocar no piano (não tocar piano...), regar as flores e espreitar as pessoas que iam aos Correios (hoje Correios Velhos).
Em casa, os meus irmãos chamavam-me alagoense, campónia, e outros epitetos igualmente simpáticos e elogiosos...
No meu primeiro dia de escola não houve, por isso, adeus à mãe, lágrimas ou mimo. Lágrimas estavam guardadas para outros dias, mimos para outros momentos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Mudanças

O mundo está sempre a rodar, ensinam-nos na escola. Assim, não devia eu, que vivo na escola, admirar-me das grandes mudanças e voltas da minha própria vida. Afinal, tento convencer-me, mudar é bom, E vou mudar. Mudar de atitude, de casa, de maneira de viver, de forma de encarar a vida. Já passada mais de metade da minha existência, com os afectos numa amálgama e o coração a transbordar de netos, carregando uma montanha de ausências, prepararo-me para mudar de casa...

terça-feira, 8 de setembro de 2015

ESQUECER

Um dia, tudo passa, tudo se esquece. Mas ela não queria esquecer. Não queria que se esfumasse o rosto amado, que arrefecesse a memória do calor com que a abraçava quando, todas as noites, adormeciam num novelo de pernas e braços. Tudo passa, garantiam. E ela não queria que passasse! Sim, ele partira. Sim, ele não voltaria mais. Mas ela tinha com ela as memórias que não queria perder. Ouvia, no silêncio,  a voz risonha ensinando-lhe Florença, o mão firme apoiando a caminhada em Siena, o sorriso provocador tentando-a para as trufas de chocolate. Sim, tudo passa... E juntos descobriam Viena, passeavam em Bruges, exploravam Bratislava. E ele tinha partido. Ela ficara e não queria esquecer. Queria segurar a presença que tanta falta lhe fazia. E garantiam-lhe que ia esquecer. E ela não queria esquecer...

domingo, 6 de setembro de 2015

COISAS

Levanto-me cedo, cedo para  domingo..., para trabalhar. Iniciou-se o ano lectivo, há que planificar, que organizar, que, enfim, acreditar de novo. O meu computador não concorda comigo, coisas do século XXI, e recusa colaborar. Diz-me, talvez para me consolar, que ganhei um IPad. Só que, o computador enganou-se e usou mal o verbo. Afinal, não ganhei. Hei-de ganhar se. Mas, este ano, pelo menos por agora, não quero saber de ses e faço-o reiniciar-se. Teimoso, a lembrar-me que as turmas aí estão, continua a não me deixar trabalhar. Os documentos não abrem, a impressora não imprime, o Google chrome não aparece, o rato não é reconhecido. Lembro-me, então, de ter lido ontem que os ratos podem vir a atingir o tamanho de vacas (??) e desligo-o.
Passo, então, a ler a legislação. Agora, é a minha cabeça que não funciona. Que confusão! tanta letra ordenada em nulidades de sentido. Vou buscar um café. Volto, e o computador pisca a luz verde exigindo-me paciência. Tento usar a pen. No way, diriam os meus netos... Recorro aos amigos e a sentença apavora-me: - Prepara-te para comprar outro, o teu deve ter chegado ao fim.
Era tudo o que não me apetecia! No meio de tantas coisas  aborrecidas, de tantas dores e mágoas, de tantas dúvidas e receios, só me faltava a morte anunciada do meu computador!

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CONVERSAR

Conversar é tão bom! Gosto de trocar ideias, de ouvir, de ser ouvida, de reformular e de, por vezes, conseguir que outros reformulem opiniões. Por isso, ou também por isso, cada vez suporto menos os todo poderosos(ou todas poderosas) detentoras da verdade. talvez porque estou a ficar velha, acho um desperdício o tempo que algumas pessoas levam a cochichar, a intrigar, a armar rasteiras e a tecer silêncios perigosos. Se Deus nos deu o privilégio da fala foi, penso eu, para agirmos através da expressão de opiniões, e não mordendo nos calcanhares alheios, como os outros animais.
Haverá alguém que possa, com verdade, garantir que nunca errou, que nunca falhou? Haverá alguém que possa orgulhar-se (?) de ter sempre razão? Só, com certeza, os estúpidos e burros que não conseguem perceber que há vida para além das suas mentes obtusas. E a conversa serve, para além de muitas outras coisas, para ajudar a apender e a (re)conhecer.
Haverá melhor forma de gastar o tempo do que sentarmo-nos num lugar agradavel conversando? Não é tão bom sair com amigos para conversar? 
E estou eu com esta conversa porque, no meu dia a dia, a conversa me faz falta. Só mesmo por isso...