quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Renovação


 Irrecusável. Ele surgira com a calma que a idade permite, longe da fogosidade jovem, e lançara o desafio: - Uma viagem de veleiro! Só os dois, sem filhos, nem netos, nem amigos, nem telemóveis. Eles e o mar, descobrindo cada amanhecer, vendo chegar a noite com uma taça de champanhe. Está bem, para ti eu preparo um Kir Royal, concedera até. 
Quando a vida dá muitas voltas, quando a existência se escreve de muitas exigências, afastamentos, saudades e promessas adiadas, a idade, se estivermos atentos, oferece uma oportunidade. Aceitas? E ela, que sempre temera o mar, as ondas, a navegação, concordara sem dar por isso. Os dois tinham tudo preparado, ela insistiu nos últimos telefonemas às filhas - sempre a ansiedade materna - e partiram. Foram as férias ousadas, diferentes, cheias de silêncios feitos de mil dizeres e sentires. O veleiro alugado, moderno e simples, permitia-lhes a cumplicidade das tarefas a partilhar. As noites, como ele prometera, faziam-se de ternura reinventada, de partilha real e efectiva, e cada nascer de sol trazia-lhes a certeza de que a vida se renova e a felicidade é possível ainda que. Sempre que.
À chegada, os dois renovados, caminharam pela praia e ela, rindo como julgava já nem saber rir, comentara que aquelas cascas pisadas podiam, perfeitamente, ser a metáfora de um passado que ficara definitivamente desfeito!



terça-feira, 20 de agosto de 2013

ENGANO

Ao longe, comprido e de ponta levantada, sugeria um crocodilo. Ela caminhou até lá e ficou olhando. Estranha peça de ferro, solta, ali na areia, lembrando outras vidas, outras existências. Devia ter servido num navio, decerto, mas agora era lixo na praia, lugar de mexilhões e lapas, ameaça para os veraneantes. Estranha a forma como tudo, pessoas e coisas, perdem sentido, perdem os lugares onde pertencem. Como aquele crocodilo forjado, ela sentia-se deslocada, com espaço para crescerem os mexilhões da solidão, com lugar para se agarrarem as lapas da tristeza intensa. Como a velha peça abandonada, também a ela apetecia ficar ao sabor das ondas da vida, sem escolhas obrigatórias, sem necessidade de crer. Talvez na sua alma houvesse caruncho de ser...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

POSSIBILIDADE

Sai de casa cedo, noite ainda, e, indiferente aos 40º graus que a rádio anuncia, começa o dia. É um jovem alentejano, agricultor, que carrega na pele uma herança com raízes perdidas no tempo. Bem português, não se envergonha de amar a terra e os animais, de saber de cor os nomes das muitas vacas que cria, de amar os cavalos que cuida e monta. Na sua juventude é com orgulho que veste os trajes de trabalho, com identidade própria, e que coloca o chapéu que o há-de proteger um pouco do sol do Alentejo. Do trabalho necessário de ferrar o gado faz jogo, e a derriba acontece. Juntam-se os espanhóis com os portugueses, uma união feita de gentes e vontades, constituem-se as equipas e inicia-se a derriba.
As paragens são curtas, apenas para um cumprimento, para um gole de água fresca. O Alentejo mostra-se imponente e vivo, os enormes sobreiros emolduram o espaço. Olho o campo, o meu mundo, os meus sobrinhos, e sinto uma raiva enorme feita de incompreensão: - Porque não deixam os jovens ser portugueses? Porque fecham portas e os mandam embora? O que estão a fazer ao pobre Portugal?! 

sábado, 17 de agosto de 2013

ESTÓRIAS INVENTADAS

Depois de um dia de praia, e mesmo tendo tido muito cuidado com o sol, ainda que tivesse refrescado a alma com uma caipirinha gostosa, sentia a pele a estalar e a alma mole.
Tomou um duche quase frio, deliciou-se com os cremes que espalhou sobre o corpo e deixou-se ficar, por vestir, sobre a cama estranha. Lá fora, as ondas continuavam certas, umas atrás das outras, agora sem presenças incómodas. As gaivotas gritavam, talvez protestando contra a multidão que começava a encher as dunas e as esplanadas da marginal concorrida, e ela semicerrava os olhos pensando no sabor das férias. Era bom poder estar assim, sem tempo imposto, sem rotinas, deixando apenas que a vida se cumprisse naquela mornice cheirosa. Em breve, sem pressas, iria vestir-se.
Um vestido longo, fresco, sandálias rasas, um rabo de cavalo juvenil. Como adereço, apenas o anel, simples, brilhando ligeiramente, devolvendo-lhe outras vivências, outros momentos de felicidade que agora pareciam querer repetir-se. Estava feliz, sim! Lembrava, a propósito de coisa nenhuma, o título de um livro:"Mulheres que escrevem, vivem perigosamente" e sentia-se capaz de escrever outro, diferente, sob o título: "Mulheres que sentem, podem ser felizes". Sabia-lhe bem a felicidade descontraída e antegozava o prazer, que sabia certo, da dança que faria em breve nos braços cúmplices que a aguardavam. Se era feliz? Talvez sim, talvez não. Mas estava feliz e, com certeza, a felicidade é um estado passageiro...

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 9

O NAUFRÁGIO
Na casa de Albufeira junto à FNAT, a casa do Cabrita, vivi Verões que nunca esquecerei! Lembro ainda a minha bóia pato, com boné azul e pescoço longo, os castelos na areia, os jogos de futebol que os rapazes faziam na praia, e o anoitecer. Nunca mais vi noites como as da minha infância algarvia, quando o céu parecia estender o manto de estrelas sobre o oceano, a noite chegava e, aos poucos, no mar iam-se acendendo luzinhas até que os dois azuis se confundissem num só. 


O meu Pai, que não sabia estar quieto mais do que cinco minutos, fez amizade com um pescador dali e, uma noite, resolveu ir à pesca e levar os "homens" da casa: - O meu irmão, um amigo da mesma idade, o meu primo aí com 7 anos, o meu tio e ele. Partiram ao fim da tarde, cumprindo a velha máxima de deixar as mulheres em terra, e ao anoitecer as senhoras foram para a varanda, mesmo sobre a praia, esperar o regresso dos nautas familiares. As luzinhas começaram a acender-se e, a cada uma, ouvia-se um ansioso é agora, são eles, que não se concretizava. 
Cumprindo uma rotina adulta que ainda hoje não compreendo, as mães despejaram em cima de nós a angústia e mandaram-nos desaparecer para a cama. 
Fiquei acordada, assustada, adivinhando cada ruído e chorando baixinho por pensar que o meu Pai podia não voltar e ficar para sempre perdido no meio daquelas mil luzinhas traiçoeiras. Algumas horas depois, ouvi barulho e vozes. Saltei da cama e fui espreitar por detrás da porta do corredor. Com o meu primo ao colo, todos ensopados, os homens voltavam. O barco, um barquito de pesca, começara a meter água, tinham voltado o mais depressa possível mas, mesmo assim, tinham feito o final da viagem a nado! Nunca mais houve pescarias nocturnas, o meu Pai passou a pescar no pontão sobre o esgoto (juro que é assim que me lembro!) mas eu, ainda hoje, quando vejo partirem barquinhos ao final do dia, lembro o susto que apanhei...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 8

O ANANÁS ROXO
Nos últimos anos de férias no Algarve com o meu Pai, a província de D. Afonso III estava muito diferente do ano de 1960, quando começamos a ir para lá no mês de Agosto. Nos restaurantes não gostavam muito de portugueses, a simpatia era pouca e os preços, muitas vezes, incrivelmente exagerados. A um desses restaurantes, bem situado na então recente Marina de Vilamoura, era mais ou menos frequente, uma vez por ano, irmos jantar em família. Lá, o peixe era sempre fresquíssimo e a paisagem soberba. Uma noite, talvez aí em 1989, lá foi a família jantar ao dito local. Tudo tinha mudado! O serviço era péssimo, a antipatia muita e o peixe pouco fresco. Só os preços exagerados se mantinham. Chegados à sobremesa, e já depois de muitas reclamações e protestos, o meu Pai pediu ananás. Apareceu uma rodela negra, num prato branco.
Chaminés algarvias
Foi a gota de água. Sem que o esperássemos, o meu Pai pediu para chamarem o dono, identificou-se como médico (o que era verdade), disse que o meu irmão também era médico (o que também era verdade), e acrescentou que fazia parte da inspecção sanitária (o que não era bem verdade, embora trabalhasse no Centro de Saúde). Mostrou o seu desagrado e disse que ia denunciar a situação e, possivelmente, fazer fechar o restaurante. A aflição do proprietário do espaço não tinha tamanho! Bem mais vermelho do que a lagosta suada que impingira à mesa vizinha... A discussão foi dura, o meu irmão a ajudar, e até foram visitar as instalações da cozinha! 
No final, saímos quase ao colo do dono e o jantar foi "oferta da casa".
Há dois anos voltei lá. Está tudo igual, incluindo os preços exagerados. Não pedi ananás...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 7

A SUITE
As Reuniões de Curso do meu Pai, licenciado pela Universidade de Coimbra no ano de 1951 (Curso 45/51), eram sempre acontecimentos marcantes. O local era escolhido de  um ano para o outro, no último jantar da reunião, sempre na terra onde vivia um dos membros do Curso. Acompanhei o meu Pai quase sempre, levei comigo as minhas filhas que nunca mais esquecerão, de certeza absoluta, as lições de verdadeira amizade. Um ano, a reunião teve lugar em Resende, juntinho ao rio Douro, num lugar que prometia tornar-se um cenário perfeito. Como habitualmente, ficou o médico residente no local encarregado da organização e da marcação das dormidas. Numa sexta-feira bem cedo, metemos-nos no carro rumo "lá acima" a Resende. O meu Pai, com a boa disposição que estas saídas sempre lhe davam, foi preparando as minhas filhas: - Hoje, vocês vão dormir numa Suite! Vocês nunca ficaram numa suite! É melhor do que um hotel de 5 estrelas, vão ter o rio Douro a vossos pés, vão ficar num hotel maravilhoso". As miúdas iam excitadíssimas, e a cada nova pergunta a resposta do avô era: - Vão ficar pasmadas! Nunca mais se vão esquecer!
Hotel Convento de S. Paulo (justo por antinomia)

A meio da tarde, porque antes das auto-estradas o país era maior, chegámos a Resende e, de papel na mão, lá fomos perguntando onde ficava o Hotel e a tal suite... Era quase noite quando chegámos ao destino: - Um café de estrada, cheio de camionistas, sem nada à volta, e quartos no 1º andar! A suite era um quarto com aranhas nos cortinados, lençóis que há muito não viam água e uma decoração assustadora! Havia duas camas, mas uma sobrou porque as crianças recusaram-se a dormir longe de mim. Desiludido, o meu Pai bem tentou falar com o colega que lhe disse que aquilo era uma suite, porque tinha um hall de acesso ao quarto... No dia seguinte, mudámos de hotel, fomos para Lamego e a palavra suite ganhou, nas nossas brincadeiras com o meu Pai, um novo significado... Ainda hoje, passados talvez 20 anos, as minhas filhas se riem quando ouvem falar em suite! 
Mas Resende era um lugar lindo!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 6

Por Vinte e Cinco Tostões
No tempo em que havia tostões, e quando o escudo dava para pagar a vida, o meu Pai foi médico da PSP. Como pagamento destas funções, a juntar ao parco vencimento, o Estado permitia aos funcionários comprar gasolina mais barata. Obviamente, e considerando que devíamos estar por volta de 1964, a economia era rigorosa e cada médico só tinha direito, por mês, a cerca de vinte escudos de desconto. Ora o meu Pai, que sempre foi péssimo para fazer contas e dar conta de papelada, um mês excedeu, sem se aperceber, em vinte e cinco tostões, dois escudos e cinquenta centavos, a quantia que lhe era atribuída  Tempos depois, recebeu uma carta do General mais importante a passar-lhe uma descompostura violenta e a insinuar que "deliberadamente lesara a Pátria em dois e quinhentos que devia repor, ficando, a partir de então, sem direito a mais nenhum abastecimento.". Sentindo-se ofendido e injustiçado, o meu Pai passou um cheque (à época os cheques usavam-se muito), no valor de vinte e cinco tostões, e enviou ao General dizendo que não fizera nada com espírito de lesa pátria e que, a partir de então, ele mesmo fazia questão de prescindir da facilidade dada pela PSP.
O que ele não se lembrou foi que, na época, todos os homens válidos que tivessem cumprido o serviço militar obrigatório continuavam ao serviço da pátria encontrando-se, apenas, como passados à disponibilidade... Na volta do correio veio a resposta do General que, ofendido, o mobilizava para a Guiné! 
O meu Pai tinha quatro filhos pequenos, a vida a começar, e tudo o que menos desejava era ir participar numa guerra que condenava! Foram dias de angústia e lágrimas! Mexeram-se as amizades, os conhecidos dos conhecidos, os contactos dos amigos influentes e ele lá conseguiu ser recebido pessoalmente no Estado Maior para pedir desculpa ao General.

No dia do encontro, lembro-me como se fosse hoje, levamos o meu Pai ao lugar onde seria recebido, ali em São Sebastião, perto da Gulbenkian, pelas 9,30h. Estava convocado para as dez horas da manhã e não ousou atrasar-se. Nós fomos para casa dos meus avós, com a minha avó a rezar sem parar e a minha mãe a impôr calma. O meu Pai foi recebido às seis da tarde. Todo o dia ficou isolado, não havia telemóveis, numa sala vazia, esperando que o chamassem. Finalmente, e com os nervos desfeitos, lá foi levado à presença do General que lhe passou uma grande reprimenda e lhe disse que agradecesse aos amigos militares que o tinham livrado de embarcar para a Guiné na semana seguinte...
O meu Pai continuou médico da PSP, mas nunca mais meteu nem um centavo de gasolina mais barata!!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 5

A AMIZADE

Os meus pais começaram a passar férias no Algarve no ano em que eu nasci. Há tempo demais... Conheceram, conhecemos, um Algarve de praias quase desertas, com peixe fresco a chegar à lota aos montes e a bons preços. Todos os anos, no início de Agosto, lá íamos nós um mês de férias. 

Com o passar do tempo, e com o crescimento dos filhos, os velhos hábitos foram-se alterando mas, para o meu Pai, ir ao Algarve no Verão era obrigatório. Fui companheira dele em muitas destas viagens, quase todas, e já não ficávamos um mês, mas três ou quatro dias, o tempo suficiente para matar saudades e rever amigos. Numa dessas idas, com as minhas filhas pequenas, aí dez anos, logo de manhã entrámos no quarto do meu Pai e ele, ao telefone, dizia: - "Ó António tu não me digas que não vens ter comigo! Tu não me faças uma desfeita dessas! Dormimos juntos sete anos e agora abandonas-me?!" A curiosidade das minhas filhas não tinha tamanho: - "Ó avô, tu dormiste com um senhor?!" E, então, indiferente ao sol que já inundava a praia lá fora, ele contou:
"Quando fui estudar para Coimbra fiquei numa República. Uma espécie de casa de amigos, com uma senhora que orientava (tentava) as coisas. Eu não tinha dinheiro, os meus pais eram pobres e, para estudar medicina, fui jogar futebol na Académica. Na República onde fiquei tinha como companheiro do quarto este amigo com quem estava a falar. Dividíamos o quarto e os segredos. Um dia, eu fui a Lisboa namorar a vossa avó, cheguei a Coimbra muito tarde, de comboio, muito cansado e cheio de frio. No comboio tirara os sapatos novos (estreados para namorar) e os pés tinham inchado de tal forma que não consegui voltar a calçá-los. Assim, descalço, com frio e com fome, subi desde a Baixa de Coimbra até à Alta, onde tinha o meu quarto. Quando cheguei, desejoso de me enfiar na cama, encontrei-a ocupada por este meu amigo. Furioso, abanei-o e protestei. Ele, muito ensonado, levantou-se e disse-me: - Está aqui um tipo a aquecer-te a cama e é assim que agradeces?!"
Creio que as minhas filhas se lembrarão deste episódio e acredito que, como eu, aprenderam a associar Coimbra à verdade das amizades.

domingo, 11 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 4

A MISSA
Entrada da Igreja do Reguengo
O meu Pai sempre teve alguma dificuldade em cumprir horários. Quando eu era miúda, achava mesmo que ele nunca aprendera a ver as horas porque, para além de nunca respeitar as horas, se tivesse de ir buscar-me às duas e aparecesse ao quarto para as três, dizia que eram duas e pouco... Ora, com a idade, este desrespeito pelas horas acentuou-se e, para ele, a hora certa acontecia sempre por volta de: - Almoçamos por volta da uma; saímos por volta das quatro; etc. Em família habituámos-nos a esta forma de olhar o relógio e já nem estranhávamos. Um dia, dia de Natal, o meu Pai resolveu que iríamos todos (o que significava filhos, cunhados e netos), à missa das dez. Ainda se ouviram alguns protestos, a hora não era convidativa a grandes demonstrações de Fé, mas não houve forma de o demover e ficou, na véspera, marcada a ida familiar à missa. Na manhã seguinte, depois da habitual agitação de muita gente e crianças em casa, com um pequeno-almoço tomado entre gargalhadas e despacha-te, lá nos juntámos para ir à missa. À saída de casa, a minha mãe, olhando o relógio, sugeriu que mudássemos os planos porque era tardíssimo. Nada disso, argumentou o meu Pai, vamos muito a tempo porque, nestas datas, as cerimónias são demoradas. E lá seguimos, quatro automóveis em fila, a caminho da igreja do Reguengo (da minha particular devoção).
Azulejo no exterior da Igreja do Reguengo
Chegados à igreja, impondo ruidosamente silêncio, entramos. Estava toda a comunidade sentada, em silêncio. Algumas pessoas começaram a ajeitar-se nos bancos, para que houvesse espaço para nós todos, e com alguma (muita) agitação, sentámos-nos caladinhos. Então, o senhor padre levantou-se, e disse: -" Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!"
Igreja do Reguengo
A nossa vergonha transformou-se, à porta da Igreja, em protesto vivo junto do meu Pai,  com os miúdos a perguntarem se a missa era sempre só assim. Ele, calmamente, respondeu-nos: - Chegámos muito a tempo! Fomos abençoados que é o que precisamos.


sábado, 10 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 3

A VITELA
Sempre ouvi dizer que o meu avô materno, António, tinha "algum" mau humor. São muitas as histórias sobre ele, e sobre as suas monumentais fúrias, que circulam na família e, até, entre aqueles que foram seus alunos. Dos mil episódios hilariantes que conheço, há um que destaco:
"Havia, em casa dos meus avós, uma empregada eterna. Daquelas empregadas que começavam a trabalhar, dizia-se a servir, pelos dez anos e ficavam, até casarem, ou até morrerem, nas famílias que as contratavam. A Docelina era uma dessas. Fora para casa dos meus avós com uma tia, de início só para fazer "recados", e tornara-se uma peça fundamental na organização familiar. Era ela quem fazia as compras, ainda à porta, seguindo o rol que a minha avó, semanalmente e com verdadeiro espírito de economista (faria inveja a muitos Gaspares), elaborava para ela. 
Ora, um dia, dia de visitas, a minha avó deu ordem para que se comprasse uma peça de vitela. À hora do almoço, com os convidados à mesa, contou que tinha dito à Docelina para comprar um lombo de vitela maravilhoso! Falou antes do tempo... Servida a refeição, a carne revelou-se dura e fibrosa, difícil de mastigar e de engolir! O meu avô, não sei se mais irritado por causa das visitas se por causa de se sentir enganado, chamou a empregada à sala: - Ó mulher, tu não compraste vitela!- e ela, segura, garantia: - Comprei sim, senhor doutor! Ai isso é que eu comprei! - E o meu avô, com o bigode a tremer (imagino eu) insistia: - Não compraste nada! Isto é vaca! - E a Docelina, ofendida no seu orgulho de eficaz serviçal, garantiu: - Ai não é não, senhor doutor! Podia ser vitela velha, mas era vitela de certeza!!"
Ainda hoje, em casa dos meus pais, quando a carne sai rija, se ouve a piada "Deve ser vitela velha..."


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS - 2

O SUICÍDIO - FIM
 Torre da Igreja de Alegrete


"Pois era mesmo preciso encontrar um espaço para colocar o corpo. A morte não permite algumas indignidades a que a vida parece indiferente. Se o Manel estivesse vivo, bem podia aquecer-se no bafo das cabras, dormir enrolado em peles por curtir e comer o pão que o diabo amassou, mas morto, ganhava outra dignidade. Ora, aquela hora tardia, naquele ermo, não parecia fácil resolver o problema. 

Foi então que o senhor padre, tal como eu chamado à pressa, sem ter tido tempo para encomendar a alma daquele desgraçado que conhecia de menino, salvou a situação:"Leva-se o corpo lá para a casa da Igreja. A gente arranja lá onde o deitar. Ora aparelha aí a carroça." Num instante a carroça estava pronta, a mula convocada para puxar e alguns braços de homens colocaram o corpo sobre a palha. A mulher, sempre com a criança ao colo, sentou-se ao lado, embrulhada na negrura da noite, cosida no silêncio que o choro entrecortava. Eu, incapaz de voltar a saltar para o lombo da mula que me trouxera, segui a pé, com os guardas, numa longa hora de marcha até à vila. 
Chegados à Igreja, com os primeiros raios de sol a despontar, o senhor padre abriu de par em par as portas da sala contígua. Olhei e não pude disfarçar um sorriso: - Em cima da mesa de pedra larga,  mesa de matança, estava a carne do porco em meio de desmanchar! Com desembaraço, o senhor padre deu ordens aos fiéis, chegou-se  a carne para os lados, tiraram-se os alguidares com o sangue e colocou-se o corpo do Manel. Por ironia, da vida ou da morte?, ele tinha agora a abundância que nunca conhecera em vida."


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

ESTÓRIAS HERDADAS 1.

Acompanhando o meu Pai, sobretudo nos últimos anos da sua vida, fui ouvinte de mil estórias que, subitamente e sem aviso, ganham forma na minha cabeça. São, sobretudo, factos vividos na primeira pessoa, era ele então jovem médico, ou ainda estudante de medicina, que me fazem companhia quando a solidão se torna forte demais. Resolvi, agora, a propósito de coisa nenhuma, dar letra a algumas delas. Penso que os intervenientes, aos quais vou obviamente alterar os nomes, já não estarão entre nós, mas acho importante afirmar, claramente, que não tenho intenção de criticar ninguém (quem sou eu para o fazer?), mas, antes pelo contrário, de imortalizar momentos de uma vida que foi cheia! Resolvi trazer o meu Pai para junto de mim, no lugar que é dele sempre, e pô-lo a contar, como me contou a mim. Espero que a saudade não me atraiçoe, que a emoção não me troque o alfabeto...

 Alegrete - Castelo


O SUICÍDIO
"Era eu médico há pouco mais de um ano, vivendo ainda em casa dos teus avós e com o teu irmão muito pequenino, pediram-me para substituir o médico de uma freguesia vizinha, Alegrete, porque o colega precisava ser operado em Lisboa. Agarrei a oportunidade com as duas mãos, na época ganhava 500 escudos por mês, menos do que a tua mãe que era professora, e aquele dinheiro dava-nos muito jeito. Assim, todas as tardes, num carro de aluguer, lá ia eu fazer a consulta do colega. Era chamado a qualquer hora, sem aviso prévio, sendo convocado pelo homem do carro de aluguer, que era simultaneamente o presidente da Junta, e que se apresentava em nossa casa dizendo "Doutor, vamos lá que vossemecê faz lá falta!" e eu lá ía. Uma noite, noite de chuva e trovoada, uma daquelas noites terríveis de Portalegre, seria quase meia noite, bateu à porta o homem do carro. "Temos de ir doutor, enforcou-se o Manel da Pisca. Está lá pendurado, precisam de si!" Calcei umas botas, vesti o capote e disse à tua mãe que não devia demorar, ia só confirmar o óbito. Julgava eu... 
Mal chegámos junto da ribeira, o homem parou o carro e informou-me "A partir daqui, o carro não passa. Vossemecê passe a pé que do outro lado está a mula do Xico Farinheira que o leva." Jovem, ainda com restos da minha energia de desportista, passei o rio e saltei para o lombo do animal. À minha frente, a pé, seguia o Xico Farinheira, atarracado, com uma tosse de tuberculoso e de poucas falas. A acompanhar os relâmpagos, a interromper o ribombar intenso da trovoada que andava já por terras de Espanha, apenas a luz tremelicante do candeeiro de petróleo que o Xico levantava, de vez em quando, para alumiar os calhaus do caminho. 
Chegamos à casa, um Monte triste onde parecia ter caído um véu de estrelas, de tal forma tremelicavam candeeiros, e fui recebido pelo pranto ordenado da viúva e das vizinhas. A GNR já lá estava, aguardando. Cumprimentos feitos e o cabo, cheio de poder na voz, declarou que me acompanhava ao sótão onde o Manel da Pisca se tinha enforcado. Segui-o, cheio de frio e de tristeza, reparando num pequeno de três ou quatro anos sentado no colo choroso da viúva, subindo a escada íngreme. Quando o cabo abriu a porta, o vento forte entrou livre, fez corrente, soltou telhas de barro e fez cair o corpo que balançava na trave. Então, o cabo desatou aos gritos "Ai que o cadáver está vivo! Ai que o cadáver está vivo!" e voou escada a baixo quase me derrubando no caminho.
Infelizmente, o cadáver estava mesmo morto...Certifiquei o óbito, dei os pêsames à viúva e fui tratar da remoção do corpo. Para onde o levar, aquela hora tardia? Como o transportar sob a chuva que, então, caía copiosamente?" 
- Filha, vamos ver o telejornal que um dia destes conto-te o resto da estória. Um dia, hás-de escrever estas minhas narrativas. "

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

FRONTEIRA


Quando a UE, então CEE, aboliu as fronteiras entre os países membros, tive imensas dúvidas sobre as vantagens de tal decisão. Claro que é agora muito mais fácil ir a Badajoz, mas também é mais fácil deixar que a droga, os terroristas e afins ,entrem em Portugal. Mas não adianta reclamar sobre o leite derramado, as fronteiras foram abolidas e paciência. Eu hoje, só mesmo por antinomia, fui atacada por um imenso desejo de levantar fronteiras. Fronteiras à volta de cada um, ou pelo menos à volta de mim, de modo a ficar esquecida do linguajar alheio. Devia haver uma forma de evitar que as pessoas se metessem nas vidas umas das outras, comentassem e opinassem sobre o que não sabem, ou sobre aquilo que não lhes diz respeito! E devia, também, haver forma de limitar o "eu", de o barrar à invasão alheia que se faz, tantas e tantas vezes, de conselhos desajustados, de julgamentos ingratos e cruéis. Eu queria poder ser parte do todo sendo só eu. Eu! Ficam-me curtos os conselhos alheios, ferem-me de morte as sentenças dos outros. Queria ser uma rocha, forte, capaz de deixar que as marés sociais me passassem à volta sem fazer dano, sem deixarem crateras no meu ser...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

FANTASMA

Chega sem aviso, instala-se sem querer saber as horas, e fica interferindo nos meus sentires. Normalmente, qual encoberto, chega de noite. Aparece de mansinho, senta-se na beira da cama e começa por me despertar enovelando sentires e recordações, desejos e frustrações. Incapaz de reconhecer se vem por bem, ou com maldade, deixo-me sempre levar e abro os olhos à provocação. Muitas vezes, quanto parte eu fico chorando, o resto da noite faz-se de insónia e o levantar surge doloroso.
Este fantasma tem-me visitado vezes demais. E eu sinto um desejo absurdo de desaparecer! De fechar os olhos com força e de não ceder à sua presença exigente. Mas raramente o consigo fazer...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ÓDIOS (PEQUENOS)

Eu sei que odiar é terrível. Cria na gente um sabor amargo, dá dores no estômago, faz-nos sentir incómodos dentro da própria pele. Tento, por isso, e por outras razões não dissecáveis em tempo de férias, combater o ódio e evitar senti-lo. A vida ensinou-me a relativizar as coisas (algumas), e o Tempo mostrou-me que tudo passa e que, às vezes, as coisas enormes hoje são insignificantes amanhã. No entanto, e apesar da minha boa-vontade, hoje tive um ataque de ódio! ODEIO o meu computador e a mania que ele tem de me cortar as voltas. Odeio-o quando se arma em pessoa, e ainda por cima pretendendo ser inteligente, e me impede de escrever, ou de formatar os textos a meu bel-prazer! Há quem diga que eu tenho duas mãos esquerdas, uma forma eufemística de me chamarem desajeitada e inábil, mas juro que não é essa a causa dos meus frequentes conflitos com o meu computador. Odeio-o! E mesmo por isso, continuo a escrever nos cadernos de capa grossa que compro sempre que posso. Hoje, foi mais um dia assim... Resolveu que eu não posso alterar o tamanho de apresentação do meu post, e não há meio de o convencer!

domingo, 4 de agosto de 2013

REDESCOBERTA

No Verão acontecem as visitas, os amigos de longe que aparecem para passar uns dias, para conversar e, às vezes, para recuperar memórias. Foi o que me aconteceu este fim-de-semana e, por causa disso, voltei a ser turista em Portalegre, na minha cidade. Comecei pelo Museu Guy Fino, as tapeçarias únicas no Mundo, guiada por uma antiga aluna que é clara na exposição, atenta aos visitantes e apaixonada pelo que mostra. Encontrei uma exposição de Graça Morais, que ainda não tinha visto, e voltei a surpreender-me com o traço surreal de Cruzeiro Seixas. Indiferente ao calor, levei os meus amigos a São Bernardo (o obrigatório túmulo de D. Jorge de Mello e os azulejos vivos), lamentando que a GNR nos tivesse vedado o acesso por faltarem dez minutos para as cinco... Paciência, visita adiada para a manhã seguinte, e a roda a rodar, os claustros frescos a protegerem-nos, as histórias de amores ilícitos (há amor ilícito?) a prenderem a atenção de todos. Seguiu-se José Régio, a coleção de mais de 400 Cristos, a arte popular, a marca de um Homem no espaço que adoptou. De novo me comovi ao subir as escadinha estreita "Tenho ao cimo da escada, de maneira que logo entrando os olhos me dão dela// uma Nossa Senhora de madeira arrancada a um calvário de capela(...)." Recebi o olhar triste, e ainda assim esperançoso sempre, do Cristo salvo das chamas e saí da Casa com um véu ténue na alma que anda a monte. Entramos então na Igreja de São Francisco, recentemente aberta ao público, e a surpresa foi imensa! É um espaço fantástico, intenso no branco e no vazio propositado, onde as peças expostas conversam directamente connosco. Gostei do espaço infantil, finalmente começa a aperceber-se que é na infância que se começa a educação cultural, e deliciei-me com a exposição de Francisco Ladeira (quem sai aos seus...). Houve ainda tempo para mostrar a cidade toda, branca e linda, vista do velho Convento de Stº António infelizmente à venda e a cair. Talvez Portalegre não seja a cidade perfeita, talvez esteja a entristecer - como o país -, mas é a minha cidade e eu sinto-me bem nela. É bom pisar lugares que se amam, é bom ver partir os amigos prometendo voltar porque: - Dois dias não chegam para ver Portalegre, ainda fica muito por visitar!

sábado, 3 de agosto de 2013

A Matilde

Podia chamar-se Andreia, Rosa, Deolinda ou até Asdrubalina. Matilde é, apenas, um nome possível para uma mulher possível. A Matilde tem três filhos, em escadinha, entre os quinze e os sete anos, e faz parte das estatísticas das famílias monoparentais. Ou seja, está divorciada. Não é uma personagem famosa, não tem nada que a distinga de outras mulheres da sua geração. A Matilde vive numa cidade pequena, trabalha como modista e todos os dias, depois do duche matinal, coloca na cara um sorriso cuidado. A Matilde sabe que tristezas não pagam dívidas, que as clientes gostam do seu ar disponível e bem disposto, que as lágrimas da noite devem pertencer apenas à sua intimidade solitária.
Hoje, o filho mais velho, e tão criança ainda, anunciou que ia para a praia, acampar, com um grupo de amigos. A alma de Matilde encolheu-se, o sorriso desalinhou-se, mas ajudou-o a preparar a mochila, deu-lhe o dinheiro disponível no autocarro inglês de lata que uma cliente lhe ofereceu e ainda lhe fez um bolo do coco com receita reforçada. Depois, abraçou-o e viu-o partir, com mais cinco jovens, a caminho da Rodoviária, rumo à Costa Alentejana.
Agora, Matilde ouve os mais novos que brincam na pequena sala, corta cuidadosamente a saia da dona Alice e pensa que tem de retocar o sorriso. Matilde sabe que a hora é de calar a dor, de trancar a ansiedade e de sufocar a angústia. Matilde sabe que ser mulher não é, infelizmente, ter um corpo perfeito e viver feliz! Matilde sabe que, em breve, todos partirão e o silêncio tomará conta de toda a casa.
Mas Matilde sabe, também, que um dia o seu sorriso não precisará ser colocado, porque surgirá natural e verdadeiro.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

AZAR

Ando com azar. Ou ando com pouco jeito para escolher as minhas leituras... Depois de uma incursão nos novos autores portugueses, jovens que, na sua maioria, procuram desesperadamente a originalidade através do absurdo e da linguagem violenta e mal-cheirosa, (excepção para o Domingos Amaral e para o João Miguel Tavares), decidi ler o romance "Uma morte súbita", da autoria de J.K. Rowling, a autora da saga Herry Potter que os meus alunos pequenos devoram (em DVD's claro...). Goste-se ou não deste tipo de literatura, penso que é inegável tratar-se de uma escritora com imaginação fértil, capaz de criar enredos de suspense e de nos surpreender com a forma como trabalha o fantástico. Assim, esperava que o romance para adultos, obviamente num registo diferente, fosse capaz de manter viva a imaginação da autora. No entanto, para meu azar, isso não acontece. Em "Uma morte súbita" somos levados para o interior de Inglaterra, para os arredores de Londres, para partilharmos o quotidiano de uma comunidade estranha. Predominam os ambientes degradados, a prostituição, a toxicodependência, a violência sob todas as formas, o podre de uma pequena sociedade que, de acordo com a autora, sumariza a sociedade geral. De novo, para meu descontentamento, abundam os palavrões, as palavras mordidas e cortadas, o linguajar que fere e destrói.
Não sou moralista, sou até defensora da ideia de que é mais importante ser-se feliz do que ser-se perfeito, mas não consigo ficar indiferente à vulgaridade reles. Acabei de ler 494 páginas de lixo humano e, gozando o sol e a praia, sinto-me suja e incomodada pelo horror de que me encheram as páginas lidas.
Talvez estejamos a viver um período literário marcado por um realismo generalista e arrasador. Talvez. Mas eu, que ainda acredito, como Antero de Quental há mais de 100 anos, que a palavra é poderosa, gosto mais de uma literatura que traz algo de novo, que incomoda porque liberta, e não que incomoda porque destrói.
Vou voltar ao meu Aquilino, vou revisitar o Vergílio! Preciso lavar a alma.
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

TORTURA

Em tempo de férias, estirada no sofá gozando o dolce farniente de uma noite de domingo, esbarrei com o novo programa da SIC, "Cante se Puder". Cedendo à publicidade, e porque acho uma certa graça ao César Mourão, fiquei a assistir. Valeu-me três noites de pesadelos! O que vi foi a exploração do horror, a tortura autorizada e consentida, o absurdo violento. Fiquei arrepiada com as miúdas cobertas de cobras, de larvas, de baratas e outros bichos asquerosos, fiquei impressionada com os concorrentes alvo de choques eléctricos e com o "convidado" que foi bombardeado na cabeça por bolas de ping-pong! A plateia, entre olhares de horror e gargalhadas, aplaudia freneticamente. No final do programa, (sim, vi mesmo até ao fim!), aparecia uma informação destacada: "Nenhum animal foi molestado durante as gravações"! Decerto ficaram mais tranquilas as consciências protectoras dos bichinhos, decerto a SIC ficou descansada por ter obedecido às exigências da sociedade disparatada de hoje, mas eu gostava mais de ter verificado a não agressão a seres (relativamente) humanos...
Eu sei que este formato de programas não é português, que foi comprado a outras televisões. No entanto, não consigo ficar indiferente ao que me parece um verdadeiro absurdo! Fará sentido passar por tanta violência psicológica para ganhar mil euros, ou menos? Incomoda-me a violência sob qualquer forma e, também por isso, não consigo compreender esta exploração das pessoas, ainda que os animais não sejam maltratados...