terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Portugal

Do turbilhão em que estou vivendo, espreito, a medo, o meu país. Espanta-me, ou revolta-me?, aquilo que vejo. Lá de fora, dessa Europa a que dizemos falsamente pertencer, vêm alertas e anúncios de falência. O país vai falir dentro de dois ou três anos, garantem. Cá dentro, numa loucura colectiva, continua-se fingindo que tudo vai bem e garantindo a concretização de projectos megalómanos e desnecessários, como o novo aeroporto e o TGV. No parlamento, as conversas são entre surdos e na vida real, no dia-a-dia das pessoas comuns, as dificuldades crescem sem parar. Na Educação, continuam os vazios de sentido, as falsas soluções, as práticas anquilosadas, os papéis sem interesse tentando camuflar o óbvio; na saúde, crescem as enormidades, abandonam-se cada vez mais aqueles que mais precisam de cuidados.
Talvez a Europa tenha razão e, em breve, Portugal esteja mesmo falido, num profundo caos económico e sem possibilidade de pagar sequer os vencimentos. Talvez o fim deste país esteja perto. Para já, de certeza, Portugal vive num faz-de-conta onde até a magia da imaginação falta...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Parlamento dos Jovens

Há uma iniciativa, em si mesma louvável, designada Parlamento dos Jovens, que visa colocar os jovens em situação de vivência democrática, deputados por um dia, debatendo ideias, fazendo acordos, opinando, argumentando, experimentando a Democracia parlamentar. Há anos que, com os meus alunos, adiro a esta iniciativa e, por isso mesmo, já falo dela com algum desencanto... Já ganhámos este desafio,na minha Escola. Já acompanhei os meus meninos à Assembleia da República para os ver, de casaco e todos pomposos, ocuparem as bancadas e manifestarem opiniões. Já perdi, também, este desafio e tive de suportar, e acalmar, a desilusão frustrada dos meus miúdos, a revolta, o desespero às vezes. Assim, com vitórias e erros, sempre achei que valia a pena participar e ajudá-los a tomar consciência da importância da Liberdade, do valor da Democracia, da responsabilidade de se ser cidadão.
Este ano, pela primeira vez, olho o Parlamento dos Jovens com desilusão e cansaço. Os jovens começam a criar medidas que julgam virão a ser bem aceites pelos adultos... Estes miúdos, jovens que deviam estar eivados de sonho, cedem à norma imposta, desistem da diferença, aderem à mediocridade que condenam, vivem contrasensos a que pretendem dar o nome de originalidade.
Talvez o Parlamento dos Jovens tenha esgotado as suas potencialidades. Ou talvez a Democracia não faça sentido. Ou talvez o mundo esteja louco!Ou talvez eu esteja mesmo a precisar de reforma...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desistência

Entrei na sala carregada de esperança, energia e vontade de fazer crescer os meus miúdos. Com a habitual refilice, os miúdos (para mim serão sempre miúdos) arrumaram a sala em quadrado (não suporto vê-los em filinhas de combóio avariado) e sentaram-se. Ditei o sumário: - Oficina de gramática! Propunha-me, hoje, levá-los a compreender os diferentes aspectos do verbos, levá-los a descobrir que o presente, como o aprenderam, pode ser futuro, passado, etc. E lá fui pedindo que sugerissem, que observassem, que comparassem, que reflectissem e concluissem. Seguiam-me com relativa atenção, o quadro negro ganhando cor, as sugestões a aparecerem. Questionavam-me, questionando-se, sobre o sentido/verdade de algumas aprendizagens que tinham como dogmas. Aos poucos, sentia a turma a responder ao desafio, a pensar, a produzir. Ah! sentia que valera a pena o meu esforço, o tempo gasto na preparação do que pretendia lhes surgisse como fluido e fácil. Sentia acontecer, de facto, o processo ensino e aprendizagem.
De repente, a campainha tocou. E quebrou-se a magia! Os muitos já tocou, apressados, impuseram o fechar de cadernos, o desligar da inteligência. Os meus miúdos desistiram de pensar porque, no mundo de hoje, vivemos dependentes de estímulos exteriores, de condicionantes e limitações que nos tornam autómatos. Se eu mandasse, acabava com a maldita da campainha nas escolas!!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

As Palavras

Há um poema, de Eugénio de Andrade??, onde se fala da força variada das palavras. Lembro-me, muitas vezes, deste poema, eu que tanto lido com as palavras, e sempre me surpreendo com a força e poder que elas têm. Como diz o poeta, há palavras doces, que chegam feitas beijos, ternuras, tecendo cumplicidades e abrindo janelas de possíveis; há palavras amargas, feitas de fel e ódio, que deixam um nó na alma, abrem porta à tristeza, anunciam sofrimento; há palavras mortais, intensas, certeiras, tão letais que delas não mais se recupera; há palavras inócuas e impossíveis, que de nada servem, que nada significam, que nada me/nos dão. As últimas são, cada vez mais, palavras de poder, de política e desgoverno. São as que me chegam pelas televisões, as que saem da boca do eng. Sócrates quando garante que estamos no bom caminho e eu vejo, diariamente, a vida a piorar...
Mas, no meu individualismo cada vez mais voluntário, são as palavras amargas que mais me angustiam. É que, sem matarem, corroem-me os sentires, fazem ninho na alma e, aos poucos, provocam úlceras emocionais resistentes a qualquer cirurgia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

UM DIA

Há uns pacotinhos de açucar do café Nicola, em amarelo e castanho, que apresentam umas frases terminadas, sempre, por "Hoje é o dia!". Algumas, têm piada, "Um dia vou dizer bem da minha sogra. Hoje é o Dia!", ou "Um dia vamos juntar as escovas de dentes. Hoje é o Dia!", por exemplo, e há outras parvas e sem nenhum humor. Sempre que me calha um pacotinho destes, eu, que nem sequer ponho açucar nas minhas bebidas, leio com atenção e fico a pensar na conclusão: "Hoje é o Dia!". Porque, acho eu, na maior parte das decisões da nossa vida o Dia, o D!, parece sempre adiado, nunca realizado. Gosto desta garra decisória: HOJE, É O DIA! Porque me recorda a voragem do Tempo e me impõe, de alguma forma, a urgência das decisões.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Amor é Cego

Chegou há uns anos, pelas mãos de um Amigo (daqueles cada vez mais raros), enfiada numa caixa de cartão e sufocada de bolinhas de esferovite, a minha imagem do Amor é Cego. Tirei-a com mil cuidados, coloquei-a em lugar nobre, e raro é o dia em que não a olho, não lhe sorrio ou não me questiono sobre a verdade que encerra. Às vezes, muitas vezes talvez, o amor é mesmo cego. Cego porque não vê onde chega, não mede a força que tem, não recua na imensidão da sua abrangência, não põe limites à intensidade com que diz presente. Cego, também, porque vira costas à razão, porque não se compadece de possibilidades racionais, porque é total e avassalador.
Para além de cego, o Amor é festa e cor. Veste-se de cores garridas, traz flores e perfumes intensos, enche a vida de sentido e a existência de fundamentais essências. Se eu trabalhasse na Arte de Estremoz, havia de fazer, também, um Amor urgente. Um Amor constante, presente, de costas viradas à paciência e calma que a vida (ou a vidinha??) sempre impõem.
Gosto do meu Amor é Cego.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Realidade???

O tempo. Sempre o Tempo, imparável, voraz, exigente, a fazer correr os dias e a, num instante, tornar velho este ano há pouco tão novo! Sem que eu desse por isso, já lá vão dez dias que vivi numa alucinação, numa entrega intensa à realidade e à vida. Agora, com o Oceano Pacífico,sempre no silêncio do meu espaço amarelo e quente, ouvindo uivar o vento gelado lá fora, revejo os dias que se esgotaram, revivo momentos e preparo sonhos de ser feliz. De ser Pessoa Inteira. Agora, numa noite gelada em Portalegre, penso egoisticamente nas minhas prioridades e finjo ignorar o Mundo que me rodeia. Finjo... porque me chegam ecos angustiantes. Ecos de decisões que considero desajustadas, desumanas até. Chegam-me, também, ecos sobre a avaliação de desempenho dos professores. Entope-se o meu mail com alertas, informações e comentários que eu, recusando a dor que não quero, elimino sem ler.
Enfim, comecei este 2010 com a sensação de planar sobre o Mundo real e, confesso, não me apetece mesmo nada aterrar na vidinha diária...Apetece-me, pelo contrário, dar largas ao sonho, aos desafios, às ousadias, aos sentires que não se cansam de dizer PRESENTE!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bem vindo 2010

E pronto. Cumpriu-se o ritual e chegou o Ano Novo. Este ano, para mim, chegou carregado de desafios, de provocações, de sonhos e de provações também. Deixei longe o meu neto, o meu Manel Bernardo, e voltei à vida real, ao quotidiano, com a sensação de se ter estilhaçado a bola de cristal onde, durante uns dias únicos, vivi e fui FELIZ!Eu, que conheço tão bem as mágoas, as desilusões, os impossíveis, as mesquinhices de um mundo pequenino, vivi possíveis, recuperei a gargalhada e recebi o Novo Ano cheia de projectos e certezas. Agora, amanhã já, vou voltar à Escola, aos meus miúdos refilões e doces, preguiçosos também, às conversas de vazios, às tarefas sem interesse. Mas vou fazê-lo com o coração cheio, quente, carregado de esperança e de Fé num futuro, que é já presente, muito melhor.
Bem vindo 2010!!