domingo, 28 de junho de 2009

Pormenores

Talvez porque os dias se fazem de enormidades que me incomodam, os pormenores são muito importantes para mim. Porque, também, acho sempre que a vida se cumpre no fazer de pequenas coisas, e não em grandiosas tiradas. Há pormenores que me preenchem. Como um toque descuidadamente ousado, um jantar à luz das velas, uma música terna e um vaso de flores em cima de um muro fronteira com paisagem imensa. Paisagem onde se é sendo, onde as essências gritam presente, onde faz sentido sorrir e crer.

sábado, 27 de junho de 2009

O Alentejo

Curvas, curvinhas, eucaliptos, Montes descaracterizados, estaleiros da Portucel numa antiga Escola Primária e, de repente, gritando essência, o Convento de São Paulo. Edifício austero e sóbrio, bem conservado, rodeado por uma quinta cheirosa, o Hotel surge convidativo. Era quase pôr-do-sol, os sentires despertos por outros olhares há dias provocaram o desejo e, ontem, a ocasião surgiu: - Voltar ao Hotel Convento de São Paulo!! Havia música ao vivo no Ermita, o Restaurante, e o ambiente, o cenário natural, as cores, o esvoaçar das aves procurando os ninhos, a água corrente, o gato amarelo miando por uma guloseima, fizeram a diferença nesta sexta-feira.
Nas janelas altas, todas protegidas contra as melgas incómodas, conseguia ver o olhar crítico dos frades de outrora. Eles viviam ali, em meditação, longe (??) das tentações. E eu imaginava-os a descer as escadas silenciosos, invadindo a cozinha, em busca das guloseimas das freiras e delas mesmas também. Sophia de Mello Breyner fez-se presente e ouvi-a mumurar que "Portugal vive em pecado mortal", tendo a certeza de que não era aos frades que se referia. Eu sentia-me a pecadora feliz. Desfrutando do prazer da noite calma, da comida deliciosa, da voz imitando Nat King Cole, dava largas aos meus sonhos mais intensos. Aos inenarráveis. Aos que dão sentido a uma vida cada dia menos sentida.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Já Está

Corrigi os exames todos. Vinte e quatro. Pela primeira vez, em vinte e sete anos de carreira docente, não houve negativas nos exames que corrigi. Seguindo as orientações dadas, contei e valorizei tudo: - O dito, o não dito mas pensado (?), o certo, o erro, as faltas (todos temos lapsos, ora bolas), as enormidades (o que conta é a intenção), as respostas ao perguntado e ao não perguntado. TUDO!
Este ano, os alunos vão ter boas notas, a senhora ministra vai ficar feliz e a hipocrisia e falsidade vão reinar! É tão bom ser portuguesa!!!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Memórias


Sonhei com a Áustria, onde foi tão bom passear. De novo estava em Salzburgo, na terra de Mozart, no espaço da Música no Coração, ouvindo as botas do capitão Von Trapp contrastando com a voz doce de Maria. Cantavam, algures, o edelweiss, a tal florinha simples, das Montanhas, com sabor a ingénua e verdadeira Liberdade.
Andava por ali,eu-nós, repisando espaços que conheço bem, num percurso cheio de possíveis, de sentires fortes e pensares escandalosamente sugestivos. A cumplicidade era real, o café gostoso, e as ruas, cheias de oferta para turistas, eram veias de sangue feliz. Andei, toda a noite, vagueando ao ritmo de Mozart, mãos dadas, promessas possíveis. Vi Salzburgo cá de cima, do cemitério florido, e senti-me capaz de voltar a Acreditar. Em muita coisa. Na Humanidade, também.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

DIA COMPRIDO

Foi comprido este 22 de Junho 09. Lisboa, mudanças, almoço a correr, reunião com encarregados de educação, passeio a pé com o Tango para bica retemperadora.
Fez-se de contrastes, desde a groselha caseira que levei para a familia de Lisboa, provincianismo assumido, às horas de condução solitária conversando com os meus botões e ouvindo Kizomba - agora deu-me para aqui -, até à ida ao velho Salão Frio para a bica derradeira. Pelo meio, uma mãe furiosa, danada com os professores, considerando que o seu menino foi perseguido. A minha surpresa atónita. Julgava passada esta febre proteccionista das mamãs... Um rapaz de 15 anos que só tem positiva a educação física e a mãe a dizer que é perseguido??? Ainda me espanto. Pelo absurdo mas, e sobretudo, pela desresponsabilização dos jovens.
Quase me alivia pensar que daqui a vinte anos não vou existir para ver uma sociedade de seres acáfalos e irresponsáveis... Quase. Não completamente porque os meus netos vão estar por aí...

sábado, 20 de junho de 2009

Manel Bernardo

O meu neto é o Manel Bernardo. Vejo-o já a correr no quintal, a mexer nos cães, a molhar-se na fonte, a sujar a cozinha e a aprender a dizer palavras difíceis. Vejo-o a ouvir as minhas histórias, atentamente como a mãe fazia,confrontando-me com as alterações que nunca resisto a fazer.
O Manel Bernardo vai dar-me um novo estatuto e eu ando feliz por isso!
Lembro-me de me sentar, bem miúda, na janela do quarto do sótão pensando que, se um dia tivesse netos, havia de lhes ensinar as cores do arco-íris e o aproveitar do momento rápido em que o mundo, diariamente, pára para respirar fundo. O tempo passou num instante e, em breve, vou mesmo poder mostrar ao Manel os baloiços quietos, o vento recolhido, as folhas imóveis no final de um dia de Verão.
Queria ser capaz de ensinar ao Manel Bernardo os segredos da cumplicidade, da ternura, do amor verdadeiro. Queria poder garantir-lhe um mundo bem diferente do meu, hoje.
Queria, mais que tudo, que o Manel e todos os meus netos fossem imensamente felizes!!!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

ABSURDO SUPERADO!!!

Quando me começo a convencer que pior é impossível, que o absurdo se realizou, a actualidade surpreende-me! Hoje, uma vez mais, assisti ao superar do absurdo. À estupidez certificada, à aberração feita norma! Hoje, numa interminável reunião de quatro horas de ignorância, vivi o impensável. Hoje, fui chamada a uma tarefa que ultrapassa o escandaloso! Hoje, disseram-me que todos os alunos vão ter de obter bons resultados no exame de 12º ano de português, porque me disseram que o erro era correcto, que há que ler o que não se escreveu, que é preciso desligar a forma do conteúdo. Em PORTUGUÊS!! Ou seja, se eu disser "dois eu tenho cão" a frase está, em termos de conteúdo correcta (??!!!)só a forma é que não é adequada... Perante um erro evidente, a identificação de um recurso estilístico que o não é, foi-me dito, textualmente: "O aluno identifica. Identifica é mal, mas identifica. Tem cotação." O que se passa com esta gente, com este país, com este governo?? O que o ME está a fazer é crime! Ninguém tem (ou devia ter) o direito de premiar a ignorância e ratificar o erro.
Os resultados dos exames vão ser bons, o governo e a maldita ministra vão concluir que o sucesso aumentou mas, de facto, a realidade é bem diferente...
Penso nos meus alunos. Coitados... O que eu os fiz trabalhar, como lhes exigi qualidade, como os penalizei pela expressão confusa, como lhes dei notas baixas por não saberem redigir!! Ao pé do que vi hoje, os meus alunos de sete e oito mereciam, no mínimo, dezassete ou dezoito!!
Experimento uma revolta que dói, irrita e dilacera. Dói-me a cabeça, sinto-me ultrajada. Queria poder fazer algo mais do que contar da minha mágoa. Queria ter poder para denunciar ao mundo as atrocidades culturais que o Portugal de José Sousa comete!! (Obviamente, usar o nome de um Filósofo, num caso destes, é desajustado)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trovoadas

A minha cidade está coberta por um denso cobertor quente de nuvens ruidosas. Ronrona constantemente o ar, choram grossas lágrimas a tentar, sem êxito, enganar o calor doentio que me faz estoirar a cabeça. Lembro o Régio, "Lá vem o vento suão, traz febre, esfarela os ossos, e atira aos desesperados a corda com que se enforcam na trave de algum desvão". Hoje, não há vento. Mas a vontade de morte, a desesperança, a febre que esfarela ossos, sinto-as correr-me nas veias. Apetecia-me uma chuvada dilúvica e purificadora. Apetecia-me água honesta, intensa e escorrida, deixando-me capaz de descobrir o sorriso de Deus que quero crer que exista.
Hoje, tenho garras que me sufocam por dentro, medos vários, e uma vontade absurda de desaparecer (não sofrer, como o poeta). Hoje, é um dia triste e cansado a fazer difícil cumprir esta coisa que dizem ser viver.
Hoje, desejo com força a chegada do amanhã!!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Hipocrisia

Escandalosa e ofensivamente fácil, o exame de Português do 12º ano. Sttau Monteiro, o Felizmente, há luar!, a liberdade, o fingimento poético em Pessoa... E os alunos a, por antinomia, dizerem que a dúvida foi identificar o sentido da expressão "fino como um coral"!!! O que pretende o Ministério da Educação com estes exames? Certificar a ignorância? Nivelar pela mediocridade? Apresentar estatísticas de sucessos completamente falsos? Não percebo. Ou não quero perceber...
Queria poder confiar no meu país, dormir descansada por saber que a próxima geração seria muito melhor do que a minha, mas tenho pesadelos ao ver a nulidade que impera! Estes jovens não merecem o país que têm, não merecem a nulidade a que os condenam!
O exame de Português do 12º ano confirma a pior das opiniões que tenho sobre o ME: - É formado por uma equipa sem qualidade, sem conhecimentos, sem objectivos sérios e honestos. Esta gente está a fazer o que, penso, de mais grave se pode fazer a um indivíduo: - Está a impedir o crescimento científico e cultural!! Está a inverter a pirâmide do conhecimento e a equiparar os piores aos que poderiam, de facto, ser melhores.
Frequentemente, tenho vergonha de ser professora. Hoje, tenho dolorosa vergonha de ser portuguesa.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Exame

Amanhã acontece o exame de Português do 12º ano. Milhares de cabeças estão, a esta hora, ansiosas e baralhando conhecimentos; milhares de corações saltam de nervoso! eu, responsável também pelo êxito dos meus meninos, já sei que vou enfrentar uma longa noite de insónia... Vou pensar no João que nunca apareceu para tirar dúvidas, na Filipa bailarina que só vi uma vez, no Miguel que tem a mania de brincar com coisas sérias, no Manel que tem dias de disparate total, na Margarida que foi tia hoje e amanhã vai estar a pensar nos gémeos recém-nascidos, na Joana que está sempre na lua, no Tiago que só responde a metade do que se pede, nas Anas ansiosas, na Mariana que se perde em pormenores, na Patrícia que quer dizer tudo, na Cátia que não lê com atenção as perguntas, no Ricardo que escreve bem demais para o que o exame exige, no Eduardo que deixa passar o tempo perdido em pensamentos e rascunhos, no Fábio que redige intermináveis períodos, na Maria que amontoa tudo e escreve como quem conversa, na minha querida Ana Maria que não confia na sua competência, na Catarina que desconhece a ortografia, na..., no... em todos os meus miúdos a quem desejo o maior dos sucessos pela vida fora! Hoje, agora, com cheiro intenso a terra molhada lá fora, a terra a dizer-se viva e fértil, não consigo deixar de pensar que, apesar da importãncia do exame, me darão maior desgosto se forem más pessoas do que se forem maus alunos...
Boa sorte, miúdos!!

domingo, 14 de junho de 2009

O Rei!!

Era um jantar de homenagem a um AMIGO especial. Tens de ir, disseram-me, tens de falar sobre o que escreveste. E eu, que cada dia mais me fecho no meu canto, lá fui. Sábado de imenso calor, missa que era para ser pela intenção dos homenageados mas que, afinal, não foi. Porque a Igreja também está em crise? porque não há porque? Porque, na desculpa esfarrapada, não há missas por intenção de defuntos ao domingo que, na Igreja, começa ao sábado.Imagino S. Pedro, no céu, a riscar no calendário: - Morreste no Domingo, entra lá que não tens cunha!... Depois da missa, o jantar. O novo hotel da minha cidade, um mamarracho de cores escuras, vista para a zona industrial, pó nos acessos por acabar e o calor a continuar. Os monárquicos à espera do rei, ou do duque que o quer ser, ou de uma ideia oca...
Sentei-me olhando. Senhores da minha terra a falarem da monarquia que eu rejeito, senhoras pomposas a aguardar o momento da vénia a sua alteza real (as minúsculas são intencionais) e, a morrer de sede e calor, lá entrámos para a sala, pequena e sem janelas, onde o dito dom Duarte nos aguardava. O jantar começou. Comida intragável!! Menú ridículo e desajustado, papos de anjo duros como calhaus, café de feijão torrado. Eu desesperava! O calor, na sala, alternava com um ar concionado fortíssimo que me fazia tremer. No fim, o discurso do duque. Que os países nórdicos têm o sucesso que têm porque são Monarquias!!! Que os republicanos são gente estúpida! Era a gota de água que faltava para fazer transbordar o meu copo!!! Não aplaudi o "viva o rei de Portugal!" gritado por vozes mais histéricas que convictas, e saí assim que pude.
Este meu país, este meu Portugal, consegue ser tão ridículo nos ideais como nas práticas!! Monarquia?? Cruzes!! Mal por mal, antes esta república das bananas...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

MILHÕES DE VERGONHA!

Mais de 90 milhões de euros por uma transferência de um jogador de futebol. E milhares de crianças morrem à fome. Mais de 93 milhões por um miúdo com pés mágicos. E não há vacinas em muitos países africanos...
Não percebo o mundo que integro! Não consigo compreender assimetrias desta imensidão.
Num mundo cada vez mais pequeno, a tal aldeia global, creio que o provincianismo (no que de pior tem!) ganha destaque! Não tenho nada contra o Cristiano, até gosto de o ver jogar e desejo-lhe toda a felicidade do mundo, gosto que seja português!! Mas, hoje, ao ser confrontada com vinte minutos na abertura dos telejornais em torno da sua transferência para o Real Madrid, não pude evitar a sensação de revolta a fazer-me acelerar o coração. Não pode estar certo, não pode fazer sentido. O mundo parece ter definitivamente enlouquecido e eu tenho medo... Um medo feito revolta angustiada, receio de um amanhã que me apavora.
Também hoje, tentando ajudar a Ana e a Alexandra a prepararem o exame de Português, falei de Humanismo, de Valores éticos, da consciência da dimensão Humana. Falei, com entusiasmo, de sonhos escritos, de originalidade, da Arte transfigurando a realidade. E, agora, sinto-me perdida, temendo a noite misteriosa por duvidar que seja possível, ainda, carregar no ventre escuro um amanhã com sentido...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

As Reflexões do Poeta

Olha do alto o país que o comemora e surpreende-se. Não o incomodam as porcarias que os pombos doentes lhe deixam em cima, ignora a pressa de quem nem o olha, acolhe com tolerância os cansaços que procuram a sua sombra sem lhe pedir autorização. Nada disso, por muito que seja, é suficiente para lhe perturbar a paz de pedra, a intemporalidade da permanência ou a segurança do lugar.
O que o incomoda, violentamente, é a memória de um povo que já o não é, que esqueceu a Razão, desvalorizou a experiência, menosprezou a essência, manchou a história e faz a realidade de desvalores despidos de sentido. Incomodam-no os discursos gastos, as condecorações abusivas que o fazem gritar do mutismo da pedra: "Mais vale merecê-los sem os ter, que tê-los sem os merecer". É o seu dia! E sorri com tristeza. O seu dia...feito de tudo o que despreza, recheado de factos que o fazem desejar, agora, nunca ter conseguido libertar-se da "lei da Morte". Ele, o Poeta - como lhe chamam, esse mesmo que apavora alunos e ainda encanta os resistentes leitores, relembra os seus versos e interroga-se sobre o efeito dos mesmos. Sim, cantou o Amor "Amor é fogo que arde", mas hoje a chama parece vir de isqueiros eléctricos, sem autenticidade, sem calor sequer. Sim, cantou a saudade da amada "Alma minha gentil que te partiste, tão cedo desta vida descontente", mas hoje os afectos são de reduzida duração. Sim, enalteceu a experiência "Mais vale experimentá-lo que julgá-lo", mas, hoje, todos julgam sem saber de que falam, porque falam ou como falam. Sim, elogiou os portugueses "Eu canto o peito ilustre lusitano", mas, hoje, o lusitano não tem peito, só bolso. Sem fundo, sem limite, bolso apenas!!
Triste, indiferente ao Hino que sabe ser cantado em Santarém, olha o Tejo. Não há ninfas já. Olha melhor, quer sentir que tem de ser possível..., mas apenas vê garrafas de coca-cola vogando, pernas mais ou menos musculadas correndo nas margens e presenças ausentes de sentido luso.
É o seu Dia! Também o de Portugal e o das Comunidades. E a pedra gasta e suja disfarça a vergonha que o faz corar de revolta. Porque será que nem as palavras têm sentido, que tudo lhe parece tão intensamente triste e vazio?
Vendo passar um abraço forte, um olhar lascivo num corpo despido, sente a dor de não poder chorar. Ele, ele mesmo que cantou o sofrimento intenso do Gigante ousado que se fez promontório, revolta-se, agora, face à ligeireza da palavra que tão fortemente lhe ocupa os sentidos. Mas, é o seu Dia! E, com a frieza da pedra que o imortaliza, pede aos Homens a mudança. Que volte a Portugal a Razão, a Verdade, a Nobreza e o Amor. Que este país que o festeja consiga, depressa!!, recuperar algo da sua essência... E volta a olhar Tejo, cantando:"Ó glória de mandar, ó vã cobiça//Desta vaidade, a quem chamamos Fama"

domingo, 7 de junho de 2009

Eleições Europeias

O PS perdeu as eleições!!! VIVA!!! Até que enfim!!! Hoje vou, de certeza, dormir melhor.
O meu CDS/PP ficou atrás dos comunas que abomino, dos esquerdosos que receio. Mas nem isso me tira o sono porque a derrota do PS encheu-me de esperança de mudança.
Até já gosto mais (um bocadinho...) da Drª. Manuela!!!

FONDUE DE LAGOSTA

Ao fim do dia, depois de muita reflexão e discussão, afinal o que são competências? Será possível ensinar de facto as crianças portuguesas a ler, falar e compreender? E estratégias são só opções militares? - Aconteceu o fondue de lagosta em Porto Brandão. É um lugar lindo e pobre, miserável, a ilustrar o verdadeiro Portugal: - Uma enseada romântica carregada de lixo, um edifício em escombros, um largo com estacionamento caótico, o Cristo Rei espantado e impotente, um restaurante terno com uma oferta saborosa.
Fui de barco, um barquinho sujo e velho, partindo do Porto de Belém a esforçar-se por ser moderno, bilhetes recarregáveis, entradas computorizadas, a modernidade a tornar-se dolorosamente agressiva face aos olhares gastos, à barba suja do bêbedo que, numa cantilena incompreensível, aguardava o barco onde não entrou. Depois de dez minutos de espera, oscilando sobre o Tejo irrequieto, no barquinho quase vazio, lembrei-me de Fados conhecidos, e agradeci a ausência das ninfas que, sem dúvida, iam sentir-se muito deslocadas no Tejo actual... Num instante cheguei à enseada triste.
No restaurante, com uma travessa de boa lagosta e um prato largo de frutas coloridas, bebendo uma deliciosa sangria de champanhe (o espumante português feito pretensiosismo...), vi anoitecer sobre o Padrão dos Descobrimentos, vi acenderem-se as luzes sobre a Ponte Salazar e vi Lisboa aconchegar-se no manto negro. Podia ser uma fadista, a cidade das varinas, se em vez de lixo e miséria tivesse encontrado limpeza e harmonia.
Soube-me bem o jantar. Boa companhia, boa conversa, e eu a tentar distrair os pensares das opções dolorosas que insistiam em fazer. Porto Brandão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tristeza imensa

Olho para dentro de mim e vejo um monte amarfanhado de desilusões e desesperanças. Olho-me no espelho e vejo as olheiras que fazem com que me perguntem se estou doente. Estou, de facto, doente. De uma doença que não passa com aspirinas, nem melhora com antibióticos, nem mata como a gripe mexicana.
A minha doença chama-se revolta sufocada! Revolta séria e funda. Revolta porque não consigo aceitar o que a sociedade está a fazer com os jovens de hoje!! Pior do que a anormalidade da avaliação dos professores, é a aprendizagem dos jovens.
Hoje, 3 de Junho de2009, numa turma de 12º ano, jovens de 17 e 18 anos insultaram-se, agrediram-se, movidos pela inveja, pela desconfiança, pelo ódio, pelo espírito mesquinho que esta sociedade promove. Jovens que, há uns anos, se uniam para puxar pelos mais fracos, agridem-se agora por décimas nas classificações finais. São jovens hipócritas, velhos por dentro, falsos e dolorosamente ajustados à sociedade actual...
Felizmente, para me animar um pouco, aconteceram momentos de afectos efectivos num almoço de despedida de outra turma. Talvez para me lembrar que a maioria não é a razão.
Como eu gosto destes miúdos! Como me dói ver raiozinhos de ódio nos olhares que deviam ser frontais e puros...Apetecia-me contar-lhes as histórias de Coimbra, memórias herdadas que me marcaram, para lhes ensinar como se constrói a essência humana, como se tece uma Amizade! O que está Portugal a fazer com a próxima geração??

terça-feira, 2 de junho de 2009

O TEMPO

O meu pior inimigo, e eu tenho muitos, é o tempo. Parece um glutão com barriga interminável, nunca fica saciado, exige devorar cada cagagésimo de segundo a uma velocidade alucinante. O tempo esgotou este doloroso ano lectivo. Num instante, um instante marcado de muita revolta, angústia, dor, mágoa, frustração, incompreensão e desilusão, chegou ao fim o ano lectivo 08/09. Para mim, ficará nas minhas memórias profissionais mais negras. Fez-se de muito sofrimento, de dolorosa solidão.
Agora, vejo partir os miúdos, três meses de inactividade (só em Portugal) e assusto-me. É que eu ainda tinha muito para viver com eles... Queria, agora, tempo de efectiva aprendizagem. Sem a maldita avaliação sumativa, com tempos de qualidade. Queria poder ir sair com eles, visitar museus, ouvir boa música, correr na praia, conversar sem campainhas inoportunas. Se eu mandasse alguma coisa, ou se alguém me ouvisse de facto, os miúdos apenas ficariam em casa em Agosto. Até lá, haveria aprendizagens de SER, reais e efectivas, feitas de cumplicidades, de diversidade e de imensa qualidade!
Mas, porque o tempo é mesmo meu inimigo, vou morrer com esta mágoa de ser professora num país que reduz a aprendizagem à instrução (pouquinha, ainda assim...)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Inhos e Inhas

Somos um país de inhos e inhas. Um país de pensamento diminuto, de ódiozinhos, de paixõezinhas, de vingançazinhas, de vidinha, de percariazinha. Sim, nem a porcaria chegamos: - Somos uma porcariazinha! Só assim se compreende, entre muitas e violentas realidades, a questãozinha que surgiu por a Escola de S. Lourenço ter recebido a medalha de ouro da cidade e a Mouzinho não. Como se a medalha trouxesse às escolas mais qualidade, mais verdade, mais prestígio... Enfim... Por uma questão de somenos importância, azedaram-se os ânimos e até o Presidente da Câmara foi à Mouzinho esclarecer as coisas!! Será possível?! Obviamente, uma questão destas nunca surgiria num país inteiro, sem inhos. Porque nesses há mais preocupação como o SER do que com o PARECER!!
Às vezes, chateia-me imenso viver no meio de tantos inhos e inhas. Apetecia-me uma verdade inteira!!